segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

SONHOS OU VERDADES



PREFÁCIO

SONHOS, TEIAS E UTOPIAS


Por: Edir Meirelles 
Poeta, ensaísta e romancista.   

 “O sonho é a miséria dos que as têm acordados.”                                                                                                                                            Cervantes. Dom Quixote – Parte segunda, cap. LXVIII.


      Conhecia, já, o excelente poeta Condorcet Aranha. Entretanto, não sabia que por trás de seu poetar havia também um emérito prosador. Seus contos e crônicas são objetivos, diretos e, embora sejam predominantemente oníricos, abordam assuntos da atualidade. Trabalhado num linguajar moderno, trata o verbo com correção e é capaz de metáforas inesperadas. Tudo em estilo fluente e marcante. Os seus textos perpassam elementos de filosofia, de moral, dos bons costumes, do Direito Universal.
      A força preponderante deste autor premiadíssimo é a utopia. Ela é a alavanca que movimenta ideologias, crenças no ser Humano e alimenta os sonhos deste escritor fluminense radicado em terras catarinenses que, além da verve própria dos papa-goiabas, certamente se inspira no inigualável poeta Cruz e Souza.
      Sonhos ou Verdades estão lavrados em literatura que, por certo, atrairá os leitores para deliciá-los, a um só tempo, pelas qualidades intrínsecas, surpreendentes e pelos desfechos incomuns. Apenas para exemplificar: o conto O centurião de rosto cenho... é de uma beleza e uma expressividade dificilmente encontráveis neste gênero literário. O onírico permeia a obra de Condorcet. Um autor que nos provoca e mostra o quanto nós escritores somos sonhadores – sugerindo situações aonde, somente aqueles que tangenciam as fronteiras do imaginário, são capazes de determinadas ousadias – possíveis somente no campo da criatividade.
      Aranha entende de fios, tramas e armadilhas. Sabe manusear com maestria  as lançadeiras do tear literário e promover urdiduras para encantamento dos leitores. Paradoxalmente, sua utopia,  tem os pés no chão das possibilidades. Seu realismo é no sentido amplo da expressão. Sem mágicas mirabolantes. Suas armas são a realidade social, nela penetra com a alma e o archote do mineiro que busca na profundidade o veio precioso.
Um escritor que não teme mergulhar na lama de nossas mazelas. Sabe localizar a pepita em meio à putrefação tal e qual a floração que nasce e se nutre no pântano. Como o aracnídeo, sabe tecer os fios e, de sua aparente fragilidade, construir a teia que aprisiona os ávidos devoradores de livros. O conto Rodriguinho, um “mané” com quem muito aprendi, se constitui num hino à falta de opção de nossos jovens marginalizados. Um primor de denúncia político-social, com profundidade e substância, à semelhança do Analfabeto Político de Bertolt Brecht.
      Alguns contos possuem estruturas com elevado grau de complexidade. Isto não significa demérito, ao contrário, sugere que o autor pode estar a caminho do romance, como ocorre com O filho do defunto. A poesia perpassa seus textos até mesmo nos pontos mais dramáticos. O boneco de piche é outro primor da elaboração literária, seu conteúdo é intenso, comovente, humano.
      As crônicas de Condorcet Aranha são explosões de brasilidade tão oportunas quanto necessárias, com elas constrói painéis de grande beleza pintados com a água-forte da competência, mostra, sem meias palavras, a realidade Brasílica. Mas, acima de tudo, faz de suas páginas um libelo contra os desmandos e injustiças das elites encasteladas no poder, deixando a míngua o povo brasileiro.
      O humanismo pulula nestas linhas em que sobressaem as crianças com as invencionices e atrevimentos com sinceridade juvenis. Faz da defesa do meio ambiente uma de suas molas mestras, com virtuosismo e competência. Basta conferir.


Nenhum comentário:

Postar um comentário