segunda-feira, 27 de junho de 2011

ASSIM ESCREVE O POETA


Condorcet Aranha

O poeta quando escreve,
É a mais pura inspiração,
Seu instinto é quem prescreve,
Remédios pro coração.

Cada verso que compõe,
Leva à alma a sensação,
De uma paz que não se impõe,
Mas se doa com a emoção.

É o artesão da verdade,
Pois não se rende ao cabresto,
Fala de amor e saudade,
Para ilustrar o seu texto.

É um peito que vive aberto,
Sem medo, inveja ou anseio,
Mas com as palavras por perto,
Cria versos de respeito.

Fala da vida e da morte,
De traição e amor,
Fala do azar e da sorte,
Da alegria e da dor.

Do que é feio ou é belo,
Do céu, da terra e do mar,
Do que é perfeito ou flagelo,
Também da mata e luar.

Vive esperanças do agora,
E saudades do passado,
Perde ilusões, vai embora,
Na plena paz do finado.


domingo, 26 de junho de 2011

AMOR, RAZÃO DE VIVER?


Condorcet Aranha
                                    
Amor sentimento estranho,
Que quando é correspondido,
Nos dá impressão de ganho.
Mas caso não se conquiste,
Nos parece ter perdido,
Como o adeus, quando partiste.

Porém se há esperança,
Dentro ao peito apaixonado,
Volta-se a ser criança.
Deixa-se a mágoa de lado,
Recupera-se a auto-estima,
Damos a “volta por cima”.

Procura-se um novo amor,
Trata-se das feridas,
Enterra-se toda a dor.
Recomeçam novas vidas,
Ungidas de novo amor,
As outras ficam esquecidas.

Se o amor é passageiro,
No coração que o transporta,
A lembrança é do primeiro.
Os outros são, com freqüência,
Os que lhe batem à porta,
Sem nenhuma conseqüência.

Por isso é que lhes pergunto:
Amor é razão de viver?
Quão difícil é esse assunto!
Como vão me responder?
Que o homem procura amor,
Pra amenizar sua dor?

Ou será que ele está,
Perdido nos sentimentos,
De amores os mais diversos,
Que cria a todos momentos,
Através de tantos versos,
Sem ter comprometimentos?

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A OMISSÃO É O MAIOR ENTRAVE PARA QUE O HOMEM DÍGNO, POSSA VOLTAR A DIRIGIR MINHA NAÇÃO.

Condorcet Aranha

       Hoje estou, pela primeira vez, expondo-me à apreciação de todos vocês que, como eu, são brasileiros. A escrita é uma das opções existentes, nos dias atuais, para que possamos trocar informações e conhecimentos. Nossa intenção é que, além da preocupação com a arte literária, façamos com que ela esteja acoplada ou, venha sempre acompanhada de outra informação de caráter técnico ou científico, trazendo-nos conhecimentos sobre a natureza, saúde, ou ciências que são, por excelência, indispensáveis para o desenvolvimento cultural de uma sociedade racional, não esquecendo de nossa responsabilidade, enquanto pais, professores ou meramente cidadãos honestos e, nesse caso particular, quase em extinção.
       Não existe a mínima possibilidade de se conseguir educar ou transferir ensinamentos para uma população infantil, na faixa de 0 a 6 anos, totalmente marginalizada e carente de todas as suas necessidades básicas, tais como a saúde, alimentação, moradia, saneamento básico, segurança, etc...etc...  As crianças dessa parcela da sociedade, ao ingressarem na escola, precisam antes de tudo, serem cuidadas, tratadas e acompanhadas psicologicamente. Com elas vêm também muitos problemas de ordem familiar, tornando-se entraves, para a comunidade na qual passam a conviver. Deficientes, fisicamente, devido à desnutrição que lhes é imposta, logo após o desmame, ainda precisam conviver com total falta de higiene, como também com a ausência de acompanhamento e carinho, além das agressões.
       Depois de serem pressionadas e muitas vezes marginalizadas, por seus próprios colegas do ensino fundamental e, devida ou indevidamente, punidas por um comportamento que lhe foi imposto no berço, durante esse ciclo escolar, essas crianças chegam na pré ou por vezes na adolescência, totalmente revoltadas por tantas discriminações sofridas. Aí, nesse momento em que a natureza lhes dá o discernimento e a possibilidade de defenderem-se com seus próprios recursos, é que se dão as tragédias dos dias atuais, tornando-se invariavelmente notícias da imprensa escrita, falada e televisada, a qual prima por viver do sensacionalismo pela sua falta de criatividade ou de competência, para tornar seu veículo de comunicação, diferenciado e um aliado da educação e cultura do seu próprio País.
       Precisamos mudar urgentemente para que não se continue a formar futuros delinqüentes, por mera omissão, disponibilizando os adolescentes, totalmente desorientados, revoltados e inseguros, à saga das máfias das drogas e da criminalidade. Se, de um lado os governantes nada oferecem de útil às nossas crianças e adolescentes, por outro, nós, detentores do conhecimento e dominadores das letras, ficamos omissos ou muito pouco divulgamos nosso sentimento ou nossas propostas. Precisamos trabalhar em favor de nossos concidadãos, oferecer-lhes parâmetros compreensíveis e que lhes permitam analisar a real situação por que estão passando. Aceitar simplesmente que as coisas não estão bem, é como virar as costas à Bandeira do Brasil. Vamos enfrentar de peito aberto, com a razão, com a verdade e principalmente com a honestidade, que tanto tem faltado aos nossos políticos, todas as imposições que nos têm impingido esses falsos democratas de plantão que, utilizam as medidas provisórias para decidirem tudo ao seu jeito, em nome de uma facciosa globalização, que pretende entregar os destinos do mundo a meia dúzia de capitalistas, como se dinheiro fosse inteligência e o luxo estivesse a disposição de todos.
      Escritores: vamos dar início a uma corrente contra a insegurança, a criminalidade e os mal-tratos impostos às nossas crianças, fazendo matérias e divulgando-as em concursos e nos demais meios de comunicação. Nossa omissão só se justifica se formos medrosos, irresponsáveis, inconscientes ou complacentes com a atual situação.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

SER E ESTAR


Condorcet Aranha

Se, dizem, as auguras, que a vida e o destino,
São meras venturas, quimeras da mente,
Em sonhos vertidos do seu desatino,
Tal qual a razão de ser bicho ou ser gente,
Quem sabe se fosse real do Divino,
Não fosse mentira de ser um vivente.

É ter liberdade e poder-se pensar,
Sentir-se alegria, a tristeza e a dor,
É ter o direito de ser e estar,
Chorar pela perda e curtir-se um amor,
Que nunca se pode no peito levar,
Devido à verdade do fim, o torpor.

Se, vejo, meus pés, a pisar no horizonte,
Se, sinto, da morte, a alma gelar,
Se, tenho, uma brisa, a brindar-me na fronte,
Se, esquenta-me, o peito, um sonho sonhar,
É como um espelho, ao alcance, defronte,
É ter a certeza de ser e estar.

Poder alterar a razão das verdades,
Poder perceber a razão das mentiras,
Sentir, entender que nem sempre as bondades,
São, só, ilusões recebidas em tiras,
Que trançam o futuro de felicidades,
Isento de mágoas e alheio às iras.

Apenas eu vivo, eu sinto e percebo,
Carrego nos ombros o peso da cruz,
A cruz do destino que fiz e recebo,
Por livre vontade e se não me seduz,
Eu sou e estou esse velho mancebo,
Onde vão pendurar os exemplos de luz.




domingo, 19 de junho de 2011

DO NETO HONESTO


Condorcet Aranha

A expressão mais sincera,
E os sentimentos mais puros
Estão nos frutos maduros,
Como no velho que espera,
Pelo inevitável fim,
Que ao partir, implanta em mim,
A tal saudade megera.

É o sábio que entre os mais sábios,
Encontra as palavras certas,
Pra conselhos e alertas,
Retirado em alfarrábios,
Guardados com a experiência,
Que a vida lhe deu ciência,
Sem temer sequer ressábios.

Tem um coração no peito,
Que dia-a-dia mais falha,
Que constrói e até entalha,
No palpitar do seu jeito,
Um amor tão delicado,
Que ao perdoar meu pecado,
Sem dúvida, é o mais perfeito.

Com pouca força nas mãos,
Faz-me suaves carinhos,
Como as aves em seus ninhos,
Com movimentos irmãos,
Aquecem nas noites frias
E espantam as agonias,
Do vento esgueirando em vãos.

É ele que em lentos passos,
Levou-me sempre em caminhos,
Com flores e sem espinhos.
Sem forças pra ter-me aos braços,
Seu colo foi pés no chão,
E demais a emoção,
No calor de seus abraços.

A saudade que me espera,
Há de aguardar por bom tempo,
Pra tirar-me o passatempo.
Pois virarei uma fera,
Se ao chegar em hora errada,
Quiser levar enganada,
Meu provedor de quimera.

É o sol que brilha em meus dias,
O luar de minhas noites,
Que me amenizam os açoites,
Das horas tristes, vazias,
Depois de alguns desenganos,
Entre os amores ciganos,
Resultados das orgias.

Esse lenço ao meu dispor,
Com a tez encarquilhada,
Faz meu sofrer não ser nada,
Por me mostrar que essa dor,
Será logo dissipada,
Depois de nova alvorada,
Do tal sabiá cantor.

Diz-me ainda e vai além,
Com rica imaginação,
Que mais vale ter na mão,
Seguro um só vintém,
Que possuir um tesouro,
Que não seja duradouro,
E não mereça o meu bem.

Segue-me por toda a vida,
Indiferente aos percalços,
Da saúde em sobressaltos,
Mantendo-me a guarida,
Embora titubeando,
Ao chegar de quando em quando
Às portas da despedida.

É o juiz dos meus crimes,
O padre pra quem confesso,
Quem me orienta o progresso,
Deixando sempre mais firmes,
Os meus desejos do ego,
Por isso assim mais me apego,
Aos sentimentos sublimes.

A sua cabeça branca,
Que me clareia no mundo,
Cala no peito, ao fundo,
Pois toda palavra franca,
Dessa boca desdentada,
Jamais pendeu fracassada,
Ou lhe deixou de carranca.

Agora já nem me vê,
Esses seus olhos profundos.
E estes lençóis imundos,
Amassados por você,
Trituram meu sentimento,
Empanando em sofrimento,
Este seu abaetê.

Nesse momento, eu entendo,
Pela cena deflagrada,
Porque a vida é sagrada.
Ao ver você falecendo,
Quase todo destruído,
Deixou-me aqui construído,
Curtindo o que vou vivendo.

Sincero é meu manifesto,
Que hoje aceita o seu fim,
Por ser orgulho de mim.
Se a fé e a verdade eu presto,
Meus votos de confiança
É porque não sou criança,
Sou homem forte e seu neto.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

AMORES PASSADOS


Condorcet Aranha

Não me são sequer saudades
Ou desventuras sofridas,
Passaram sim, são verdades,
Mas não deixaram feridas,
Cicatrizaram as metades
E as outras foram esquecidas.

São lembranças engraçadas,
Que hoje conto com orgulho,
Como troféus de cantadas,
Que conquistei nos mergulhos,
Num jovem mar de assanhadas,
Que como eu... são bagulhos.

Foram bonitas, garbosas,
E requebravam os quadris,
Sorriam muito, eram prosas,
Mas me fizeram feliz,
Nos tempos das melindrosas,
Quando era esperto e as quiz.

Se hoje nem são saudades,
Os meus amores passados,
Não mentirei, são verdades,
Que em bengala, apoiadas,
Essas mães, avós, bondades,
Sequer um dia lembradas,
Vivem sofridas, maldades,
Lá nos asilos deixadas.

terça-feira, 14 de junho de 2011

RESULTADO 1º PRÊMIO CONDORCET ARANHA

Confira os ganhadores do 1º Prêmio Condorcet Aranha:


 Premiados em 2011

Alba Pires Ferreira – Porto Alegre – RS
Professora, escritora, vice-presidente ALPASM-21,
Presidente da Academia Castro Alves

Cláudio Pinto de Sá – Porto Alegre – RS
Comerciante, cronista, Delegado ALPAS-M21

Marines Bonacina – Porto Alegre –RS
Jornalista, poetisa, colaboradora ALPAS-M21

Elisabet Abreu – Cruz Alta – RS
Artista plástica

Maria Elena Vizzotto – Cruz Alta - Rs
Professora, poetisa, radialista, colaboradora da ALPAS-M21
___________________________________________________________
Cleide Aranha, esposa de Condorcet Aranha, veio de Joinville especialmente para entregar o troféu que representa este prêmio para Elisabeth Abreu e Maria Elena Vizzotto em 27.05.2011 em Cruz Alta – RS.


Os associados podem ser indicados por outros associados para concorrer ao  2º Prêmio Condorcet Aranha em 2012.

sábado, 11 de junho de 2011

FOI ASSIM.




 Condorcet Aranha 

Nasceu o sol.
Nasceu o dia.
Nasceu o rio.
Nasceu a flor.
Nasceu a abelha.
Nasceu a vida.
Nasceu o homem.
Morreu Jesus.
Morreu o sol.
Morreu o dia.
Morreu a flor.
Morreu a abelha.
Morreu o rio.
O mundo acabou.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

JÁ NOITE, CHEGUEI CANSADO.



Condorcet Aranha


Já noite cheguei cansado,
Do meu trabalho, suado,
No berço estava deitado,
Meu filho debilitado.

Perguntei ao Céu:  Porque?
O filho de um homem honesto,
Trabalhador nessa pátria,
Só tem que viver de resto.

Indaguei olhando à esposa,
Já sem seios, só costela.
Que posso mais eu fazer,
Pra ter o respeito dela?

Não tem forças nem tem leite,
Pra criar seu próprio filho,
E embora a tudo ela aceite,
É ato de arremedilho.

Volto ao Céu desesperado:
Porque nunca me responde?
Toda a vida eu sou  surrado,
Por alguém que se esconde!

Esconde-se no azul do céu,
Qual juiz onipotente,
Tratando-me como réu,
Esquecendo que sou gente.

Assim na dúvida vou,
Até no dia do adeus:
Não sei se, ao homem, criou,
Ou o homem criou o Deus.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A LIÇÃO DE LIA


Condorcet Aranha       

      Apesar de estarmos na primavera, isso me lembro perfeitamente, devido ao colorido que as inúmeras flores emprestavam àquela praça por onde passávamos, mais parecia um concurso de Miss Universo entre as flores. Também os movimentos sintonizados do ir e vir que faziam ante o embalo provocado por um zéfiro naquela tarde fria, era um verdadeiro baile no salão de festas da mãe natureza. O inebriante perfume das diferentes fragrâncias florais acabavam por encher os pulmões de quem por ali passasse e mais, invadia sua alma como num ritual de prazer e satisfação plena, que levava ao seu espírito a certeza de que a paz existe.
      Poucos metros a nossa frente, uma senhora acompanhada por uma linda menina, ambas trajando ricos casacos que avançavam até a metade da barriga da perna, demonstravam estar ainda sentido o rigor de uma frente fria, chegada fora de hora. Principalmente, a menina que sequer tirava suas mãos dos bolsos do casaco.
      Como caminhávamos na mesma direção e a pouca distância, pudemos escutar quando aquela senhora disse:
-          Alcina! Vamos até o shopping naquela loja de brinquedos? Assim você escolhe alguma coisa e depois fazemos um lanche!
-          Está bem mamãe, vamos sim.
-          Viu a coincidência Alcino? – Indagou-me mamãe.
-          Vi sim, elas também vão à loja de brinquedos, né?
-          Não menino, você não escutou que o nome da menina é Alcina?
-          Escutei mamãe, mas o quê tem isso?
-          Ah! Deixa pra lá, seu chato!
Tanto eu como a menina, deveríamos estar com a mesma idade àquela época, oito anos, portanto a nossa única preocupação naquela tarde de primavera friorenta, era de ir até a loja de brinquedos e comprar aquele que mais chamasse a nossa atenção.
      Já, no shopping, enquanto mamãe apreciava entretida às vitrines das lojas de roupas femininas e infantis, além das exposições de aparelhos eletrodomésticos e dos últimos lançamentos das livrarias, eu puxava sua mão na tentativa de, praticamente, arrastá-la até a loja de brinquedos. Fui tão afoito e irreverente que acabei levando um belo puxão de orelhas e ainda tive o desprazer de ouvi-la dizer para me espelhar no comportamento de Alcina que naquele momento, sossegada ao lado da mãe, ainda com as mãos embutidas nos bolsos do casaco, observava tranqüilamente uma vitrine com enfeites de natal. 
-          E daí! Respondi desdenhando com movimento de meus ombros. Ela está é com frio! Ademais as meninas são mesmo bobas e vivem a imitar suas mães. Brincam com bonecas como gente de verdade, vestem suas roupas e sapatos ou pintam com o tal de batom as suas bocas. Ficam parecendo verdadeiros palhaços de circo. Isso sim!
Lia ficou brava e ameaçou de não ir mais à loja de brinquedos, caso ele não se comportasse muito bem a partir daquele momento.
Apesar de emburrado, Alcino não teve outra opção a não ser comportar-se muito bem, até que chegasse a sua vez. Aliás, aqueles minutos lhe pareceram verdadeiros séculos.
Enfim, chegou o tão almejado momento para Alcino. Dentro da loja de brinquedos, ele não tinha mãos suficientes para pegar e observar todos àqueles que despertavam a sua atenção. Lia repreendia-o, sistematicamente, para que não pegasse os brinquedos da prateleira, porém a ansiedade do menino o deixava alheio aos acontecimentos do ambiente. Foi, então, que Lia o puxou pela manga da camisa e lhe mostrou que do outro lado da loja, a menina Alcina observava às bonecas, casinhas e demais brinquedos com a maior tranqüilidade ao lado de sua mãe. Pouco adiantou, Alcino deu uma rápida olhada em direção à menina, levantou os ombros por três vezes consecutivas simbolizando um muxoxo e voltou a satisfazer de modo completo toda a sua curiosidade.
      Coincidentemente, e depois de muito tempo, não foi fácil Alcino escolher apenas dois brinquedos, Lia chegou à fila do caixa para efetuar o pagamento, atrás da mãe de Alcina.
      Ao chegarem no balcão para retirarem seus pacotes, Lia como num desabafo, disse para a mãe da menina:
     -  “Ufa! Como cansa acompanhar esse menino numa loja de brinquedos. Tudo que vê quer pegar, examinar, testar... parece um descontrolado.” Calmamente, a mãe de Alcina respondeu:
-  “É assim mesmo, todas as crianças são iguais. Elas não levam na alma os preconceitos, mentiras nem a desonestidade dos adultos. São espontâneas e se deixam vencer por seus sonhos e ilusões, por isso aos nossos olhos, parecem muito  ansiosas, mas creia a senhora, num futuro próximo, o dia de hoje lhe será de  saudade, pois lembrarás com muita alegria a canseira que ele te deu visto que será  diluída pelo tempo que certamente a apagará”.
       Nesse instante, a empacotadora chamou-as, quase que simultaneamente, entregaram seus pacotes e se despediram.
      Alcino logo tomou das mãos de Lia o pacote dos brinquedos.
      Pouco à frente, Alcina reclamou com sua mãe que carregava o pacote, estar sentindo calor com aquele grosso casaco. Com uma das mãos a mãe retirou o casaco das costas da menina, porém as mangas do casaco continuaram nos bolsos.
      Só então é que Lia entendeu as palavras da mãe de Alcina.
      Alcino tropeçou numa pedra saliente do mosaico português que revestia a calçada, foi ao chão, arranhou um de seus braços, ameaçou um leve choro, levantou-se, pegou de novo a caixa de brinquedos e saiu alegremente.
      Lia parou, retirou do bolso seu lenço branco, enxugou às muitas lágrimas que rolavam por sua face, enquanto Alcino disse-lhe:
-          “Não precisa chorar mamãe, foi só um arranhão no braço”. Pegou-a pela mão e   insistiu:
-    “Vamos embora mamãe! Quero chegar logo em casa! Quero brincar, né?”.