quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

ADMITIR ?



Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Num emaranhado de desmandos, desrespeitos e falcatruas.
É como se santificar, sem altar, sem fé,
Num misto indefinível, entre demônios a andar nas ruas.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Sob a tutela de governos corruptos e autoritários,
Subjugando-me, à vergonha dos seus atos porcos,
Além de injustos impostos arbitrários.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Já nos limites de idade, que o País permite,
No subjugo desonesto e da incapacidade
Em oferecer, mas manda-me, com dedo em riste.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Vivendo entre a malária, dengue e outras mais,
Ausentes e esquecidas, nos tempos dos meus pais!
Hoje de volta e ocorrendo nas grandes Capitais.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Ao ver a natureza dizimada, pelo vil poder dos capitais,
Que rouba-nos sem piedade, sem resistência governamental,
O pouco que nos resta, de recursos naturais.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Observando a carruagem da cultura e educação,
A despencar pelo barranco, para um vale escuro,
Sem ter sequer, como salvá-la, com um freio à mão.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Sem condições para ajudar, quem não tem nada,
Apesar de uma bagagem que me faz capaz,
Obstruído pela justiça, inoperante e ultrapassada.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Nessa democracia que é só para “inglês ver”,
A massacrar meu povo, indefeso e vilipendiado,
Pela real escravatura, do internacional, poder.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Olhando os filhos entre drogas, pelas ruas, viciados,
Sem os conselhos que se dava em casa,
Sendo induzidos pela ambição e marginalizados.


Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Tentando resistir, sob o domínio de governo espúrio!
Para impedir que jovens ponham ao solo, seu conteúdo,
E manchem as ruas qual o cromo do mercúrio.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Ao ver as rédeas tesas, em mãos injustas,
Como as dos capitalistas, que a alma vendem,
Sem defender-me, entre agressões tão brutas.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Seguindo a vida, contra os meus próprios ideais,
Ao deparar com as crianças inocentes, pelas ruas,
À disposição do crime organizado e de audazes marginais.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Vivendo no acéfalo, “País das maravilhas”,
Onde os corruptos, ladrões e criminosos,
Curtem prazeres, com bolsos cheios, em várias ilhas.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Se, embora à força, participo da tragédia,
Usando apenas, minha voz, a motivar aos jovens,
Ciente de que o tempo é curto, para tal tragicomédia.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto
Vencido, temporariamente, pela saga dos inescrupulosos,
Cedendo em mil momentos e em defesa da família,
Para apenas adiar esse confronto, com os bárbaros maldosos.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Se, atendo ao comando inconseqüente de um vil político,
Sem refutar ou agrupar alguns fiéis e seguidores,
Pelo temor da força e duros atos, do momento crítico.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Se, vivo insegurança, em meu próprio lar,
Na mira de bandidos que podem invadi-lo,
E, em defesa da família, poderei, matar.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Quando ao passar em frente aos postos de saúde,
Vejo crianças, mulheres e velhos destratados,
Que, certamente, antes da hora, deitar-se-ão no ataúde.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Ao ver, tenras crianças, por semáforos afora,
Subjugadas às imposições de falsos pais,
Que lhes obrigam a trabalhar fora de hora.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Se nada faço contra o curso, dessa estória!
Mas dentro d’alma um sentimento me conduz,
Ao qual não venço, infringindo-me a memória.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Ao ver irmãos de pés descalços, em noites frias,
Sempre humilhados, escorraçados, sem trabalho,
Sendo incapaz de oferecer-lhes, algumas alegrias.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Quando o governo deste meu País,
Com arrogância, entre mentiras, diz,
Para agradar o FMI, que meu Brasil, vai bem!

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Vendo sumir e sem defesa, a nossa flora,
Para alegria dos corruptos, daqui e do exterior!
Ante o olhar dessas crianças, que comida implora.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Se, ainda estou calado, e olho o bando a extorquir,
Numa sociedade suprimida dos direitos mínimos,
Que vencida por doença e fome, nem, pode reagir.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
A quem restou, bem poucas laudas para um protesto,
Contra esse mar de roubos de “governadores”
Que ao próprio povo, causa tantas dores.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Usando esse meu tempo e o papel tão branco,
Para expor, esse meu sentimento interno,
Honesto e puro, ou seja, apenas franco.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Um “caipira”, como disse um troglodita,
Com orgulho besta, que se diz “filósofo”,
Sem perceber o halo da burrice dita.

Enoja-me admitir que sou um cidadão honesto,
Enoja-me admitir que sou um cidadão e presto.
Enoja-me admitir que sou um cidadão e resto.
Enoja-me admitir que sou um cidadão. Protesto!