terça-feira, 25 de setembro de 2012

TRILHA

 

Lá no fim da longa trilha,
Onde a terra beija o céu,
Encontrarás a cartilha,
Que descerrará o véu,
E verás a maravilha,
Da vida e do seu papel.

É só ao fim da jornada,
Cansado e desiludido,
Quando o tudo vira nada,
Que vemos não ter perdido,
A fortuna acumulada,
E sim haver conseguido,
Enxergar nova alvorada.

À luz da sabedoria,
Podemos logo entender,
Que sem sol não há o dia;
Cai à noite o escurecer;
A vida é doce magia
E a morte é o renascer.

Onde a terra o céu beijou,
É um ponto culminante,
Pois, ali, nada acabou,
A trilha segue adiante;
Outra vez o sol brilhou

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

DETESTO O DOMINGO



O domingo é exatamente,
Como outro dia qualquer,
Explico, sou convincente,
Mas, não me entende, a mulher!

Por se dormir mais um pouco,
Complica-se todo o dia,
Depois, quase acabo louco,
Com tanta louça na pia.

O dia fica pequeno,
Pra tomar tanto remédio,
Embora pareça ameno,
Acaba aumentando o tédio.

Fico zonzo e sinto azia,
O estômago me arde,
Porque sempre neste dia,
O almoço sai mais tarde.

As ruas são tão vazias,
Que criam um ar de mistério,
E ao contrário d'outros dias,
Mais parece um cemitério.

A TV?... Não dá pra ver!
Nem sequer novela tem,
As visitas? Que prazer?!?!
É pra comer que elas vêm.

Desculpem a sinceridade,
E se apronto esse barraco,
Mas, pra falar a verdade,
O domingo é mesmo um saco.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

ENVELHECER

 

Tudo é muito de repente,
Uma doença se instala,
Limita a vida da gente,
A forte voz quase cala,
Aumentam o grau da lente,
Nos sugerem uma bengala,
Nos chamam de paciente,
E nos transformam num “mala”.
 
“Mala”, desses sem alça,
Que só fala do passado,
Pra quem o tempero é salsa
Não um ritmo dançado,
Porque só conhece a valsa.
Que além de ultrapassado
Faz até xixi na calça,
E ainda vive barbado.
 
Nessa hora o “bicho” pega,
A ilusão pra vir demora,
E praticamente cega,
A visão do nosso agora.
O que foi bom vira bodega,
A esperança vai-se embora,
E a gente quase se entrega,
À mágoa que nos devora.
 
II
                                  Cabelos brancos, mais ralos,                                    
Olhos fundos, falta brilho,
Pele mais fina e sem calos,
O neto que vira filho,
O filho que vira pai,
A ilusão que se esvai,
A esperança passa longe
E o horizonte se esconde.
 
O tudo passa a ser nada,
O futuro é no presente,
Presente é coisa passada,
Olham com dó para a gente,
A saudade é mais malvada,
Sofrimento é impertinente,
O tempo é festa acabada,
E alegria é aparente.
 
Mesmo assim a gente agüenta,
Até quando Deus quiser,
Setenta oitenta ou noventa,
Até mais, caso vier,
E o coração não arrebenta,
Se ainda tiver mulher,
Senão! É grande a tormenta,
Pra ir aonde não quer.
 

  III

 
Quando se fica sozinho,
Nos estertores da vida,
Sem amor e sem carinho,
É como a ave perdida,
Que não mais encontra o ninho.
Mas, já no fim da corrida,
Aos poucos, devagarzinho,
Se, entrega à hora doída.
 
Mais nada vendo na frente,
Nem sequer, mesmo, ao seu lado,
Difícil é ficar contente.
Pois, se for resignado,
Deixar de ser combatente,
Não há significado,
Portanto, ao ser persistente,
Resiste como um soldado.
 
Soldado que está na guerra,
Mas não por sua opção,
Que nas trincheiras da terra,
É sobra de um pelotão,
Que com seu fim se encerra.
Por isso, como um leão,
Tudo enfrenta e até se ferra,
Pra não deitar no caixão.
 
     IV
Porém, logo se acostuma,
Com tamanha confusão,
Pois quem não tem mais nenhuma,
Também não tem opção.
A lente de grau mais forte,
Aproxima os objetos,
A bengala aponta o norte
E é arma contra os espertos.
 
O passado é só saudade,
O futuro não interessa,
Não se faz conta da idade,
Pois tudo acaba depressa.
Portanto se salsa é dança,
Ou tempero de comida,
No tempo que sempre avança,
Nada muda em minha vida.
 
Preciso somar agoras,
De alegria e de prazer;
Preciso fazer as horas,
Enormes no meu viver;
Não deixar de ver nas cores,
O verde da esperança;
Não esquecer dos amores,
Nem deixar de ser criança.
 
V
Assim, estou consciente,
Que só novo fica velho,
Se já fui adolescente,
Nos meus erros me espelho.
Portanto a experiência,
Arduamente adquirida,
Doou-me a tal paciência,
E o conhecer dessa vida.
 
Então a hora do fim,
Eu não quero nem saber,
Quando ela chegar a mim,
Sequer irei perceber.
Estarei tão distraído,
Em meio a tanta beleza,
Que feliz terei partido,
No colo da natureza.
 
Bem simples é a passagem,
Que pela terra fazemos,
Mesmo assim, com esta viajem,
Não quer dizer que morremos.
Tudo que no mundo existe,
Transforma-se dia a dia,
Portanto a gente persiste,
Transformado em nostalgia.
 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O CANTO DO SABIÁ

                     

Canta aqui no meu quintal,
Um saudoso sabiá,
É ave que aqui gorjeia,
Tal qual gorjeia a de lá,
 
Muda a planta em que aninha,
O espaço que ele tem,
Não muda a saudade minha,
Por ter perdido o meu bem.
 
Hoje, no quintal, se esgueira,
Pois de cantar não cansou,
Procurando a companheira,
Pois, seu deus não a levou.
 
Seu canto de amor brejeiro,
Num fino ramo a dançar,
Trás a fêmea em seu poleiro,
Para um novo acasalar.
 
Queria que os cantos meus,
Estivessem onde ele está,
Eu queria que o meu deus,
Fosse o deus do sabiá.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

INSEGURANÇA

 

 
A insegurança e o peso da idade,
A torpe angústia, a vida, a solidão,
Sem ilusões na hora da verdade,
Olhando o céu na sua imensidão,
Eu me pergunto se serei saudade,
Ou se meu tempo, aqui, foi tudo em vão.
 
Na incerteza do que vou deixar
E sem saber o que serei ou fui,
Sigo meu rumo além da terra e o mar,
Porque se ainda a esperança flui,
Espero algo para encontrar,
Pois, só assim, meu coração não rui.
 
Seja o que for que surja à minha frente,
Deixe-me triste ou talvez contente,
Eu manterei o porte e, como gente,
Vou aceitar, feliz, esse presente,
Porque da vida, estando eu ausente,
Foi por vontade sim, do Onipotente.
 
Mas se acaso nada acontecer,
E tudo acabe aqui, no tal momento,
Não vou negar! Foi muito bom viver,
Pois, apesar da dor, do sofrimento,
Nada supera o amor e o seu prazer,
Nos dando à alma o doce linimento.