quarta-feira, 23 de maio de 2012

CRÔNICA DO EU




Condorcet Aranha

       Jamais deixo que palavras estratégicas, maliciosamente, colocadas num contexto, consigam transgredir os meus conceitos de justiça e legalidade. Mantenho a fiel verdade no meu inabalável princípio de vida.
       Desprezo, veementemente, às notícias desconexas, as montagens irreais, impulsos sentimentais, “figuras que envergonham” e as frases que nada dizem.
       Não consigo entender a humanidade andando na contramão do simples, a qual maquia verdades ou ainda utiliza um linguajar “acadêmico”, quando deve usar o seu discernimento e cultura para se posicionar lado a lado daqueles que necessitam entender o que falam, para adquirirem um pouco de cultura e confiança.
       Por vezes, indago-me:
-             Será que a cultura e o saber ocupam espaço na estrutura psíquica do orgulho humano?
Não quero acreditar! Tolhido da liberdade de expressar o seu puro sentimento,
obviamente o meu “eu” sentir-se-ia oprimido por não levar a verdade a quem de direito, caracterizando sua falta de inteligência e incapacidade de ação lógica, isto é, fazer fluir aos demais as suas idéias, mesmo que sejam simples.
       A sociedade contemporânea está sequiosa por conhecimento, não tenho dúvidas, mas me pasma a falta de atitudes político-administrativas que possibilitem a interação mais efetiva, uma convivência mais próxima e sem discriminações, acelerando o aparo das arestas que, certamente diminuirão as desigualdades e, facilitarão o entendimento. Ainda aumentarão o respeito, alargarão os horizontes da paz e até, quem sabe, despojarão o homem dessa verdadeira praga a qual se chama “orgulho”.
       Com a certeza de que escrevo, tão somente o que sinto, não temo às críticas de parceiros ou de competidores, porque apenas o tempo e as futuras gerações poderão avaliar e reconhecer o meu legado. Garanto-lhes que não serão grandes pedaços de pensadores consagrados ou não, que comporão esse legado, mas, inevitavelmente, apenas os argueiros do “eu”, único, autêntico e simples.
       Tanto os sentimentos do “eu” como os de “vocês” serão partilhados com “ele”, pois, assim, será possível para todos “nós” entendermos que “vós” e também “eles”, assimilaram a simplicidade e a nobreza do respeito, como também o significado da palavra “amor”.
      




        “Crônica do eu” , obteve o primeiro lugar em crônicas no Concurso Internacional da ALPAS XXI, Academia Literária a Palavra do Século XXI, RS, em 2007.

domingo, 13 de maio de 2012

NO TEMPO PASSO COMO O VENTO




                               
Passo no tempo, como o vento, sem destino,
Reservo na alma ilusões, esperanças e fé,
Procuro por mim e as razões, um total desatino,
Não acho, não vejo, mas sinto e nem sei o que é,
Foi sonho criança, brinquedo nas mãos de menino,
Foi luta e coragem de um jovem que vence a maré,
Morrendo na praia, vencido no tempo, um velho cretino,
Sem força, sem credo, do morro o sopé.

Não busque razões, só passe no tempo e resista,
Caminhe, flutue, assim como o vento, sorrindo.
Cantando e amando, assim como a flor, beleza exibindo,
Deixando na terra sementes de ti, porque és o artista,
Que podes dar cor ou tornar um terror essa tal existência.
Portanto, cuidado em seus atos, com calma reflita,
Agindo somente com base fundada na tal da ciência,
Deixando ao futuro, as suas ações, a sua conquista.

Mudar esse mundo é possível, o destino jamais,
Por isso só use a verdade em sua expressão,
Pois, a força de suas palavras será muito mais,
Que a força do braço que leva uma arma na mão.
Solene, repita as palavras que algo já possa mudar,
Insista nas frases capazes de amigos fazer,
Declame seus versos sem medo de pouco rimar,
Exiba aos seus pares, sentidos, seu modo de ser.

Deixando ao tempo futuro que passará qual o vento,
Somente ilusões, a fé e até esperanças,
Porquanto, o destino, quem sabe, já tem seu lamento,
No pranto sofrido, até mesmo, de nossas crianças.
Assim, esse velho perdido, cansado e cretino,
Que o tempo carrega nas asas do vento, soprando,
Nos deixe exemplos, lições e os seus desatinos,
Ciente que ficam no mundo, seus filhos, amando.



terça-feira, 1 de maio de 2012

TRABALHA TRABALHADOR



         Trabalha trabalhador, do sol nascer até se por. Beba a água do cantil. Enxugue o peito molhado. Mergulhe na solidão.
         Enfrente a hora que passa, mais lenta que o teu desejo, quando comendo a polenta, no descanso do almoço, viajas nas esperanças. Mas deixe o teu coração, repousar sobre os teus sonhos, que apesar de enfadonhos, te darão novo vigor, pra que a tua pulsação, leve o sangue aos extremos, pra não te curvar à chibata, do insensível patrão.
         Trabalha trabalhador, não descanse na enxada, pois se ela está parada, te faltará quase o nada. Resista este sol ardente, que insiste em queimar-te a pele, pois ele é tua energia que empurra esses braços fortes, na luta por mais um dia.
         Com os goles d’água que bebes, engula um pouco de fé, à sombra das laranjeiras. Quem sabe esse sabiá, chilrando essa melodia, tristonha como essa tarde, encontre nos alfarrábios de grandes compositores, a partitura capaz de te trazer alegria e também nova ilusão, pra seguir o teu destino.
         Trabalha trabalhador, que o brilho do teu suor, escorrerá para a terra, enterrando toda a dor. E quem sabe, fique leve, deixando até flutuar, no espaço de tua mente, conjecturas felizes de amor e até de desejos.
         Mas, a fé que conseguires, tomar com os goles d’água, servir-te-á de consolo, quando a enxada companheira, te for pesada demais. Serás então invadido, pela brisa da saudade que sem te pedir licença, invade teu coração. Então sofrerás sem tréguas, a dor da desilusão, na incerteza inevitável que estará entre os calos, criados em tuas mãos.
         Nessa hora vai sentir, queimar o teu coração, a flama da impotência, a saga da dependência, do vil arrependimento. Mas sem ter uma opção, há de crer nessa verdade, do início e do fim, à qual sempre resistimos e não queremos aceitar. Porém quem veio pro mundo e se fez trabalhador, fez-se exemplo de humano, de gente a se respeitar.
         Cresceu e fez crescer. Amou se deixou amar. Entregou aos descendentes, talvez um mundo melhor.
         Somente quando partiu, indagou-se até surpreso! Será que valeu a pena? É essa a razão da vida? Em meio a tanta alegria, lazer e muita orgia, eu optei pela enxada. Calejei as minhas mãos, pra comer foi pouco pão, nem sequer eu vi o mundo. Agora me vou daqui, de onde não levo nada, vazio como cheguei.  Sentindo que a minha alma, ficou repleta de dor, nas costas, braços e mãos, porque insisti em ser, apenas trabalhador.