sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Academia de Artes, Ciências e Letras Condorcet Aranha, de Restinga Sêca/RS





A Academia de Artes, Ciências e Letras Condorcet Aranha, de Restinga Sêca/RS. tem a honra de convidar-lhe para as Posses de sua Diretoria e dos Membros Acadêmicos Fundadores que ocorrerá no dia 24 de agosto de 2013, às 15 horas, no Plenário da Câmara Municipal de Restinga Sêca/RS, Rua Francisco Giuliani, nº 142.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A HISTÓRIA DE BRASIL VALENTE DOS SANTOS



                                                                                        
       Nascido numa favela do Rio de Janeiro, ironicamente, batizado como Brasil Valente dos Santos, aquele menino franzino, anêmico e abarrotado de vermes, venceria a todas as expectativas e, depois de passar fome, ser agredido quase diariamente por um pai bêbado, não ter a atenção da mãe, sofrer agressões físicas e morais por parte dos meninos maiores, chegaria à pré-adolescência cheio de mágoas, rancores e muita vontade de vingança.  Sim, muita vontade de vingança de tudo e de todos.
       Como freqüentou a escola por oito anos, ali conviveu com amigos que traziam em suas almas, as mesmas dores, as máculas irreversíveis e os mesmos ódios. Também aprendeu a enfrentar as crueldades com igual ira, única forma de sobrevivência nessas condições.
       Agora adolescente, lembrava da escola como uma verdadeira cadeia, porque, durante longos oito anos, ali sofreu castigos das professoras, das diretoras e até de alguns colegas maiores que, como elas, o viam como um menino sem educação, regras, respeito, enfim, um típico exemplo da maldade. Mas, assim era e ainda é o Brasil Valente dos Santos, um revoltado por nunca ter recebido um mínimo de atenção e carregar em seu físico doente as marcas de um passado de agressões. Como conviver diante desta realidade, dentro de uma sociedade tão desigual e entender seus parceiros, ex-professoras e diretoras da escola que jamais passaram um dia sequer, naquelas condições que talharam o seu físico, como também a sua personalidade? O seu coração batia sempre forte, portanto, estava vivo. Vivo e totalmente só, abandonado entre milhões de “cidadãos” que sequer conseguiam parar seus olhares na sua imagem por alguns segundos. Brasil Valente dos Santos sentia-se como um caco de vidro, transparente, mas invisível, estático, porém temido, tanto que ninguém dele se aproximava. Em seu interior, crescia a repugnância contra os mais abastados, a revolta pelo desprezo e a angústia pela falta de perspectivas futuras. Porém, a todos os seres vivos é dado o direito de interação no meio ambiente e cada coração bate, independente, e é capaz de ao seu modo, também amar.
       Sem saúde, sem cultura, sem respeito ou emprego, como esse jovem, um dos mais de alguns milhões, conseguiria colocar em sua boca um pedaço de pão? Então ele pensou:
       -    Vou procurar auxílio num órgão público de amparo à criança e ao adolescente. Assim ele fez, afinal, era valente até no nome. A indiferença com que foi recebido, o modo com que foi tratado durante sua estada, trouxe a sua mente nítida lembrança da triste infância e da fase escolar, ali, também estavam os grupos dos mais fortes que imperavam e subjugavam aos demais, num recinto fechado e sem direitos, mas com muitos deveres em sua maioria ilegais o que, certamente, o arrastaria para o vício, às drogas e à criminalidade. Portanto, se o Brasil Valente não era suficiente, ainda lhe restava o “dos Santos” e foi aí que o menino se encontrou com a fé, com a esperança e o amor. Fugiu da casa de amparo ao carente e caminhou sem destino, ao se deparar com uma linda igreja, entrou e depois do sinal da cruz, ali fez a sua primeira e mais sincera oração, apesar de nunca ter aprendido nenhuma.
       Ao sair da igreja, foi abordado por um senhor que perguntou, porque estava com aquela aparência tão triste? 
       Embora surpreso Brasil era valente e acabava de entregar-se aos Santos. Então, como sempre transparente como o caco de vidro, contou toda a sua história.
       Atento à narrativa do menino, o senhor sentiu fluir a sinceridade daquelas palavras e, comovido, convidou-o para ir trabalhar com ele em sua padaria. Assim, fez, deu-lhe morada, alimento, emprego e atenção.
       Uma semana depois, ao sair para o trabalho, às quatro horas da manhã, Brasil Valente dos Santos, foi vítima de assalto e ao reagir para defender o seu direito de cidadão honesto, foi assassinado com três tiros.
       Enquanto agonizava na sarjeta aonde vivera praticamente toda a sua existência, um rápido filme passou em sua cabeça: “Aqui está a imagem do Brasil, um derrotado que apesar de Valente, foi vencido pela criminalidade e entregue aos Santos antes da hora. E qual seria a minha hora, caso tivesse continuado na sarjeta? Teria conseguido concluir os meus sonhos e transformado em realidade as minhas ilusões, embora fossem maléficas e criminosas?”.
       Assim, partiu mais um cidadão brasileiro que tentou de todas as formas se manter na trilha do bem, envolvido pelas incertezas e irremediavelmente vencido pela insegurança.
       Em meio a tantas dúvidas, mentiras, corrupções, desigualdades sociais, criminalidade e total falta de assistência à criança e ao jovem, como poderia o nosso Brasil encontrar o caminho do bem, da prosperidade e da paz?
       Quantos serão os “brasis valente” que ainda entregaremos, prematuramente, aos Santos, até que a moral consiga se impor e junto com a vergonha encontre um espaço para se alojar na cabeça desses nossos governantes irresponsáveis e acumuladores de riquezas resultantes de fraudes e desvios?
       Brasil Valente dos Santos eu invoco o seu perdão por minha incapacidade de protegê-lo quando mais precisou, mas, tenha a certeza que te amo Brasil, respeito-o por todos os momentos que a vida o testou, pois, recebeu de ti uma atitude Valente e, hoje, vejo que você, também, foi Santo como esses outros que te levaram prematuramente.