quarta-feira, 22 de agosto de 2012

UM PASSEIO COM A VERDADE


                                          

Fui caminhando pro sul, pra fronteira do Brasil,
Na imensidão devastada, da mata já derrubada,
Achei o inverso do norte, pra quem o norte já viu,
E quanto mais caminhava, mais nada somava ao nada.

Sendo visto um derrotado, não abdico da luta,
São poucas pequenas plantas, que reponho em seu lugar,
Sem verde na paisagem, seu próprio pendão refuta,
Em mim persiste a esperança, dum zéfiro a tremular.

Se, roubam à minha bandeira, o tanto verde que tem,
Se, retalham seu tesouro, do losango, que mantém,
Vivo em paz na faixa branca, do globo azul do meu céu,
Plantando as pequenas plantas, com flores que darão mel.

Não me importo se nem ligam, para as plantas que eu planto,
Nem me importo se desdenham, levantando as sobrancelhas,
Nos meus remendos do verde, fico livre, alegre e canto,
Pois me agradecem felizes, ao revoarem, as abelhas.

Muitas flores desabrocham, dessa pequena atitude,
Os aromas se difundem, espalhando mil saudades,
Quem poucas plantas plantar, demonstrará a virtude,
Quem delas abdicar, se somará nas maldades.

Num mundo globalizado da saga capitalista,
O interesse maior, é o lucro de imediato,
Duvido que na ciência e na verdade ele invista,
Pois é escravo da gula e não lhes somos bom prato.

Mas como já disse antes, da luta não fugirei,
Até no dia da morte, um pingo verde farei,
Não vai sucumbir em mim, o orgulho brasileiro,
Nem ferir o meu rincão, a ambição do estrangeiro. 

Se a cada dez conterrâneos, que vivem a me contestar,
Só três fizessem o que faço, com consciência, plantar,
Não sofreriam mais, frio, as margens de nossos rios,
Envolvidas pelos mantos, no verdejar de seus fios.

Voltariam a clarear e avolumar nossas águas,
Carreando vale abaixo, do peito, todas as mágoas,
Mostrando pra natureza que somos só parte dela,
Que temos no coração, a flama verde-amarela.


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

QUEM NÃO VÊ, SONHA.



                         
Ontem à noite faltou luz,
Mas a lua sorrateira,
Com seu luar, bem maneira,
Como um velho arcabuz,
Cravou-me um tiro certeiro,
No coração que matreiro,
Começou a disparar,
Induzindo-me a te amar.

Foi a noite mais bonita 
Nas imagens do meu quarto,
No coração que palpita,
Sem sequer ver teu retrato,
Eu me curvei para a lua,
Para a força do luar
Mostrando a beleza tua,
Convidando-me a sonhar.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

APENAS MAIS UM DIA



Raiava mais um dia em minha vida, apenas,
Os mesmos sentimentos todos já vividos,
Chorei por meu passado quando as cantilenas,
Dos zéfiros da tarde que em seus fluídos,
Previam que a noite apagaria as cenas,
De apenas mais um dia a mim oferecido.

Que importa mais um dia se não mais te tenho?
Raiar de novo o sol pra alguém que está cego?
Porque das cantilenas sobre um rosto cenho?
Não quero mais sentir, ouvir e nem me entrego,
As tolas esperanças, por um novo engenho,
Pois não desejo mais sequer pregar um prego.

Não vou fugir dessas agruras de tormento,
Nem mesmo hei de por a corda no pescoço,
Aguardarei heroicamente o meu momento,
No velho corpo que agora é pele e osso,
Também o lar de uma alma por um tempo,
Que nem sei se existe ou é tampa de um fosso.

O corpo podre irá pra terra com certeza,
Será adubo da semente ao nascer,
Enquanto a alma subirá, é incerteza,
Como um balão ao céu distante? Como ver?
Nenhuma crença me completa a natureza,
Sem alicerce, como erguer, sem entender?

Não deixarei que minha vida, a grande obra,
Que ficará nas mentes vivas por lembranças,
Seja artefato dessa fé que é uma manobra,
Das crenças doces, qual sorvete, das crianças,
Que se derrete em pouco tempo, nunca dobra,
E apenas some... parte junto às esperanças.

Por isso os versos do poema expressam dúvidas,
E se emaranham em sentimentos controversos,
Nos labirintos de existências que já pútridas,
Trazem nas tardes seus fluídos que dispersos,
São nauseantes e se espalham em doses místicas,
Ao ofertar-me mais um dia, dos perversos.