sábado, 17 de novembro de 2007

Além da realidade

ALÉM DA REALIDADE


Roberto completara 83 anos, era uma linda tarde de verão, terça-feira, dia 5 de janeiro. Filhos, netos e bisnetos, todos reunidos, numa algazarra capaz de atormentar até aos surdos.
Rosa, sua esposa, aos 81 anos, na cadeira de rodas, com as mãos, saboreava uma fatia de bolo. Óbvio que muitos farelos escapavam de seus dedos e caiam sobre a saia e o tapete da sala.
A farra que todos faziam, própria das pessoas mais jovens e crianças, para Roberto e Rosa pouco importava, porque para eles era apenas uma linda tarde de verão.
Prazerosamente, apesar da proibição médica, Roberto oferecia goles de seu refrigerante para Rosa, escondido dos filhos e netos. Ela, docemente sorria para o marido. Aquela alegria, não poderia ser superada por nada de bom que nesse mundo possa existir. Afinal, a vida com seus intermináveis mistérios acaba por se tornar responsável pela maioria das infrações cometidas pela humanidade em busca do seu significado.
Roberto tinha consciência do ato infrator, porém a quem deveria atender? Como roubar tanta satisfação de sua amada?
Rosa o fitava com seu olhar ofuscado pela doença que impiedosamente lhe roubava até mesmo o direito de falar com o seu conivente parceiro, impedia-a de abraça-lo, devido à paralisia do braço direito e mantinha-a na cadeira de rodas. Com os olhos marejados e o sorriso forçado, Rosa sem palavras, mas com a brandura de um zéfiro ao fim de tarde, com o trêmulo braço esquerdo esgueirou-se entre as limitações impostas pela realidade e, num supremo esforço, com o dedo indicador dissipou as intermitentes lágrimas que, quando em quando, fugiam ao controle dos já fundos, verdes e tristes olhos de Roberto.
Jefferson, o filho mais velho, percebe que o pai está oferecendo refrigerante à sua mãe. Aproxima-se, interpela-o com certa veemência, retira-lhe o copo e com o dedo indicador, faz sinal de não para a mãe. Imediatamente, Jefferson retira-se e retorna para as conversas e brincadeiras.
Roberto pega seu lenço, limpa delicadamente a boca e o rosto de sua amada, beija-lhe a face e com as mãos alinha os seus brancos cabelos.
Marília, uma das netas, pára em frente à cadeira de rodas, olha para a avó e com ar de repulsa diz: “que caca!”, enquanto Rosa, sorrindo, com seu dedo indicador trêmulo tenta alcançá-la para oferecer-lhe mais um carinho, além dos milhares que já tinha lhe proporcionado em seus sete anos de existência. Marília recua rapidamente e sai em disparada. Nos lábios de Rosa, que nada escuta, o sorriso permanece, porém nos fundos olhos de Roberto, novas lágrimas se projetam sobre as rugas de sua face ante a cena que o deixa muito chocado e, novamente o trêmulo dedo indicador de Rosa, que não alcançara a face de Marília, dissipa-lhe as lágrimas carinhosamente.
Afinal, estão comemorando o qüinquagésimo aniversário de casamento de Roberto e Rosa, porém os nubentes pouco participam da festa.
Duas pequenas velas com os pavios já queimados estão sobre o último e grande pedaço de bolo comprado à última hora em uma padaria qualquer para substituir, pela primeira vez, os grandes e maravilhosos bolos de recheio que Rosa, esbanjando alegria, preparava para receber seus filhos, netos e bisnetos, nesta data.
Cenas e mais cenas do passado moíam o coração de Roberto, enquanto, cautelosamente, retirava os farelos de bolo presos à saia de sua amada. Em seu monólogo, já que não era escutado, deixava que as frases escapassem por seus olhos e chegassem aos de Rosa. Então, devidamente decifradas e entendidas, ela pedia com o dedo indicador que ele lhe trouxesse mais refrigerante e bolo, cada vez mais... Prontamente, ele armou um estratagema, dirigiu-se ao Jefferson e disse-lhe que iria dar umas voltas com a cadeira de Rosa no quintal, já que estava calor para que ela se distraísse um pouco. Numa rápida atenção, Jefferson balançou a cabeça em atitude permissiva.
No quintal, Rosa e Roberto comiam bolo e tomavam refrigerante à vontade. Ambos davam deliciosas gargalhadas, indiferentes a tremenda sujeira que faziam.
Passado algum tempo, Jefferson lembrou-se e foi até o quintal aonde deparou com aquela cena até hilariante. Ficou furioso, repreendeu-os e chamou-os de irresponsáveis.
Roberto e Rosa, de mãos dadas, sorriam muito, muito mesmo. Afinal de contas, para eles era apenas uma linda tarde de verão.
Ao anoitecer todos foram embora, mas Jefferson, como sempre o último a se retirar, chamou seu pai e disse-lhe:
- O senhor também está perdendo o juízo? Já não sabe que mamãe não pode tomar refrigerantes e nem comer muito doce? Parece-me que estás completamente fora da realidade!
Com um discreto sorriso, Roberto pôs a mão no ombro do filho e disse-lhe:
- Hoje você ainda não entende certas coisas, mas amanhã, provavelmente, compreenderás que tanto eu como tua mãe, de fato estamos fora da realidade, a bem da verdade, já estamos além da realidade.
Na manhã seguinte, Rosa e Roberto foram encontrados mortos em seu leito. Na mesa de cabeceira, estavam um prato de papelão com farelos de bolo, as duas pequenas velas, uma garrafa de refrigerante, um pequeno vidro de poderoso veneno e uma folha de caderno, onde se lia: “Agora, além da realidade, existindo ou não alguma coisa depois da vida terrena, não nos será permitido esclarecer tal fato porque, sem a dúvida, o ser humano certamente cometerá muito mais desatinos e maldades. Saibam que eu e sua mãe estamos super felizes, porque somos iguais, pois nada escutamos, vemos ou contestamos. Mas... Pedimos desculpas a vocês, filhos, netos e bisnetos, porque terão que limpar o tapete da sala, o quintal e o nosso quarto. Sabem como é, não? Foi nossa última farra! As duas pequenas velas no bolo trouxeram-nos a certeza do fim. Se a de número cinco encheu-nos de orgulho e saudade por lembrarmos de você Jefferson e seus quatro irmãos, a de número zero deixou-nos bem claro o que restava.”

sábado, 10 de novembro de 2007

Sonhos marmóreos e a verdade

SONHOS MARMÓREOS E A VERDADE - poesia – autor: Condorcet Aranha

Sentado na lápide de um sepulcro,
embalado por marmóreos sonhos infantis
ante uma vida que julgava interminável,
até pensei que um destino esplendoroso,
apesar da fome, companheira inseparável,
rasgando o estômago num processo doloroso,
pudesse vir com a herança que não tinha,
de um passado mórbido e implacável,
a ressuscitar na alforria juvenil,
toda angústia de um peito abominável
em que a verdade sorrateira se avizinha
para provar que sendo um objeto com aresta,
estou ferindo inocente a sociedade
por querer participar da vida, essa festa,
que todos têm e almejam com ansiedade,
onde o futuro é somente quem atesta
se fui, diante do escrito por meu passado,
um alfarrábio criminoso e irresponsável,
por ter nascido de um estupro delinqüente,
ou se agora na verdade do presente
sou alguém, como ninguém, que não imundo
aqui na vida, essa herança Onipotente,
como são todos objetos deste mundo.

Em pé, ao lado da lápide de um sepulcro,
sentado na verdade de um adulto
embalo nos meus sonhos de saudade,
junto da fome que ainda sem indulto,
persiste nas lembranças do passado
para entender porque mantendo a lealdade,
agora tenho um coração abandonado
dentro do peito repleto de ilusões,
já no ocaso merencório do destino,
revendo a vida, oferece mil perdões
a tantos quanto lhe induziram ao desatino
ou até julgaram a aparência com maldade,
ante o semblante carrancudo e sofredor
que ainda busca na beleza do presente
colher nos ramos da incerteza o seu amor
e poder cantar, chorar, gritar, também sou gente.
Agora me banhando no futuro,
aonde as águas cristalinas não escondem meu passado,
revivo com certeza as emoções
sentidas lado a lado com as paixões
ciente de que o peito está seguro
convicto de que a solidão,
será a companheira como a fome
doída qual o injúrio das mentiras,
rasgando as mãos de quem as tome
para julgar ou entender um cidadão.

Assim a despedida é mais serena,
a noite se completa em escuridão,
a brisa pelo vale é mais amena
e a lua não renova e sim se esconde.
Os sonhos, as saudades e as lembranças
prescrevem como angústias de crianças,
deixadas sobre a lápide marmórea,
sepulcro inexorável da verdade,
que não refuta o seu filho inconseqüente,
por ter acompanhado a sua história
iniciada num estupro delinqüente.

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(A versão italiana desta poesia ficou entre as dez finalistas do Concurso Internacional de Poesias “Il Giunco”, Itália, obtendo o 5° lugar na votação dos leitores.)

Obteve também o 1º lugar no Premio Internacional de Poesias – Santa Maria della Luce- (Itália) 2007.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

1º Congresso Mundial del Mundo




De 24 a 31 de maio de 2008, na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, será levado a efeito o 1º Congresso Mundial del Mundo onde poetas e escritores de todo mundo estarão presentes num grande congrassamento e em defesa da paz mundial. A força da expressão culta é a única arma que não derrama sangue e sim, inunda a humanidade de amor e compreensão.

domingo, 4 de novembro de 2007

Companheiro? Não meu!

COMPANHEIRO? NÃO MEU!

Condorcet Aranha

À todos solto meus versos:
(“Orgulho é ser brasileiro,
Vergonha é ter como “chefe”,
Esse tal de “companheiro”)

Quanta tristeza me invade
E me gasta a paciência,
Ter por líder um covarde,
Que se esconde na inocência.

Quem não pune o infrator,
Por ser dele um amigo,
É omisso e sem amor,
Põe o Brasil em perigo.

Da cultura é o avesso,
Diz que ler é muito chato,
Quando fala é só tropeço,
Prefiro escutar um pato.

Qué! Qué! Qué! Gostoso ouvir,
Lá no fundo do quintal,
É melhor que o repetir,
De um cara que fala mal.

Desde quando ele fundou
O PT, este balaio,
Fala até de improviso,
Mas, pior que um papagaio.

Portanto faz muitos anos
Que Marco Aurélio Garcia,
Esconde-se atrás dos panos,
Da falsa democracia.

Grande amigo de Fidel,
Hugo Chavez e Allende,
Vai cumprindo o seu papel,
E o “companheiro” defende.

Sendo ele o conselheiro,
De assuntos do exterior,
Vai levando o “companheiro”,
Ao futuro de terror.

Cidadão de consciência,
Não serei mais um omisso,
Esgotou-me a paciência,
E ao País? Meu compromisso.

Do Turismo, esta ministra,
Que goza bem relaxada,
Nem sequer administra,
Aliás, não sabe nada.

O senado que vergonha,
Tem ladrão lá no seu cume,
É mais sujo que a bironha,
Que vive em cima do estrume.

E o molusco cefalópode,
Tudo assiste complacente,
Diz que fazer nada pode,
E abandona sua gente.

Quem brasileiro é, de fato,
Lá do sul até o agreste,
Há de caçar qualquer rato,
Pra se livrar dessa peste.

E o caos da aviação,
Que tanto usou no passado,
Pra cuspir na oposição,
Hoje, está bem piorado.

Mas, ele jura inocência,
De que nada ele sabia,
Teremos nós paciência,
Pra agüentá-lo mais um dia?

Seus parceiros de partido,
Fazendo “rolo” ao seu lado,
Quase nos faz comovido,
Dizer que foi enganado.

Imaginem! Entre parentes
E os companheiros de “luta”,
Desvios ficam patentes,
Quer de verbas ou conduta.

Vocês lembram do Dirceu,
Do Palocci e Genoíno?
O primeiro escafedeu,
Com os demais virou grã-fino.

Presidente do povão,
Usa terno de Armaní?
Quer humilhar seu irmão,
Ou dizer: “Nem percebi!”

Tendo no DOPS dormido,
Apenas por uma noite,
É político perseguido?
Tá merecendo um açoite!

Tem aviões na Embraer,
Que servem à nossa gente,
Mas, pra voar com a mulher,
Comprou um da concorrente.

Tendo perdido um só dedo,
Aposentou...É inválido?
Ou do trabalho tem medo?
Parece negócio esquálido.

Se, o estudo, ele não “topa”,
Porque mandou os herdeiros,
Estudarem na Europa?
Não entendo! “Companheiros”!

Ele é um absurdo,
De vergonha nacional,
Presidente sem estudo,
Gari com fundamental.

Quando eleito Deputado,
Da nossa Federação,
Sequer foi parlamentar.
Por que tamanha omissão?

Como pode aposentar,
Se ainda tem pouca idade?
Cidadão pra não morrer,
Trabalha uma eternidade!

Por que é que seus amigos,
Corruptos comprovados,
Não foram deste partido,
Como outros, expurgados?

Com tanta coisa sombria,
Entre o PT e a FARC,
Será que teremos um dia,
A nossa Joana D’Arc?

Não quero sequer pensar,
Em tamanha humilhação,
Quero sim, me orgulhar,
De viver nesta Nação.

Como pode falar tanto,
Sobre governos passados,
E calar-se, por encanto,
Sobre os seus processados?

Perguntas o povo faz,
Mas nunca obtém resposta.
“Companheiro” és incapaz
Ou tem cabeça de bosta?

A verdade falta agora,
Jamais deixa de chegar,
Por vezes até demora,
Mas vem pra desmascarar.

Portanto, sendo escritor,
Escrevo essa prosa em versos,
Com tristeza e muita dor,
Pelos momentos perversos.

Pois, não serão “companheiros”,
Transitórios no poder,
Que trarão os brasileiros,
No cabresto pra sofrer.

Governantes incapazes,
Corruptos, prepotentes,
Sentirão do povo a mágoa,
E a ira dos descontentes.

A palavra é o alimento
Da cultura e do saber,
Capim sacia o jumento,
Que jura ser chato ler.

Defensor da liberdade,
Darei minha própria vida,
Em defesa da verdade,
Do Brasil, terra querida.