sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

AMOR CABOCLO




Ao pé da serra onde a terra beija o céu,
Nós construímos nossa choça de sapê,
Pra não deixar que tanto amor ficasse ao léu,
E eu pudesse completar-me de você.

O sol ficava enciumado se nos via,
Entre carícias e abraços de desejo,
E atrás da serra, avermelhado, se escondia,
Enquanto a lua iniciava o seu cortejo.

Lançava raios prateados na janela,
Que refletiam nos seus olhos cor do mar.
Mas, quando via minhas mãos no corpo dela,
Por trás das nuvens ia logo se ocultar.

Se nossos corpos se fundiam em emoção,
Ao atender nossos desejos incontidos,
A noite cálida trazia a escuridão,
Para esconder nossos momentos bem vividos.

Por quanto tempo o nosso amor pode existir?
Só nossos filhos, ano a ano, pra contar:
Rogério, César, Valentina e Ademir,
O resultado de quem soube, sempre, amar.

Pergunto ao sol, pergunto a lua e até a noite,
O que fizeram! Onde levaram meu amor!
Como resposta eu recebo um novo açoite,
Para aumentar meu sofrimento e a minha dor.

Ao esconder-me lá na choça ao pé da serra,
Eu quis fugir da impertinente e má saudade,
Mas não sabia que, o bom Deus, é lá que enterra,
A solidão, tal qual saudade, outra maldade.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

LABIRINTOS - CONTOS, CRÔNICAS E POEMAS.




O escritor, Condorcet Aranha, foi mais uma vez lembrado pela ALPAS 21, agora na coletânea "Labiríntos" onde duas de suas poesias foram publicadas.

NO TEMPO PASSO COMO O VENTO
                               
Passo no tempo, como o vento, sem destino,
Reservo na alma ilusões, esperanças e fé,
Procuro por mim e as razões, um total desatino,
Não acho, não vejo, mas sinto e nem sei o que é,
Foi sonho criança, brinquedo nas mãos de menino,
Foi luta e coragem de um jovem que vence a maré,
Morrendo na praia, vencido no tempo, um velho cretino,
Sem força, sem credo, do morro o sopé.

Não busque razões, só passe no tempo e resista,
Caminhe, flutue, assim como o vento, sorrindo.
Cantando e amando, assim como a flor, beleza exibindo,
Deixando na terra sementes de ti, porque és o artista,
Que podes dar cor ou tornar um terror essa tal existência.
Portanto, cuidado em seus atos, com calma reflita,
Agindo somente com base fundada na tal da ciência,
Deixando ao futuro, as suas ações, a sua conquista.

Mudar esse mundo é possível, o destino jamais,
Por isso só use a verdade em sua expressão,
Pois, a força de suas palavras será muito mais,
Que a força do braço que leva uma arma na mão.
Solene, repita as palavras que algo já possa mudar,
Insista nas frases capazes de amigos fazer,
Declame seus versos sem medo de pouco rimar,
Exiba aos seus pares, sentidos, seu modo de ser.

Deixando ao tempo futuro que passará qual o vento,
Somente ilusões, a fé e até esperanças,
Porquanto, o destino, quem sabe, já tem seu lamento,
No pranto sofrido, até mesmo, de nossas crianças.
Assim, esse velho perdido, cansado e cretino,
Que o tempo carrega nas asas do vento, soprando,
Nos deixe exemplos, lições e os seus desatinos,
Ciente que ficam no mundo, seus filhos, amando.