sábado, 23 de novembro de 2013

ECOS DA NOITE



                       
Novos tempos nos dominam,
Com ecos da noite horríveis,
São sons fortes, nos irritam,
Apavoram, imprevisíveis.

Apitos na madrugada,
Que usam guarda-noturnos,
Pra coisa só ser furtada,
No intervalo dos turnos.

Jovens bêbados, drogados,
Berrando palavras nuas,
Carros loucos, disparados,
Cantando os pneus nas ruas.

São mesmo ecos modernos,
Rádio estoura aos decibéis,
Na porta dos tais infernos,
Onde há droga e coronéis.

E a polícia que devia,
Defender nossos direitos,
Porque se omite e desvia,
Vantagens pra seus proveitos?

Mas são esses os novos ecos,
Que devemos suportar,
Saber que somos bonecos,
Dos que vão nos comandar.

Entre eles nossos filhos,
Poderão se encontrar,
E embora fora dos “trilhos”,
Teremos que perdoar.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

DESPEDIDA QUE TORTURA

  

O céu nublado e escuro, duro, me castiga,
Também o som da marcha fúnebre e a cantiga,
Acompanhando o corpo inerte da amiga,
Que deixa tanta confusão e me intriga. 
 
Aonde encontrar a paz e me livrar,
Das rédeas do poder incauto e cruel?
Chorar nas tiras da mordaça, ou soltar
Nos versos, meu repúdio pra me libertar?

A solução eu sei que é não ser omisso,
E então tomar a posição que, acredito,
Será melhor para firmar meu compromisso,
Com a verdade e deixa-la por escrito.

Assim, meus versos pulsam puros, nus e crus,
Alivia-me a angústia que no peito arde,
E a enorme sensação de impotência é a cruz,
Que levarei à morte embora até me tarde.

Não deixarei a amiga que hoje está morta,
A repousar no túmulo da eternidade,
Sequer permitirei sentir que me conforta,
Lembrá-la dia a dia só como saudade.

É meu dever ressuscitá-la e o farei,
Com fé, coragem e responsabilidade,
Sem me importar com a dor e o tanto que chorei,
Conseguirei traze-la com a força da vontade.

De volta, a forte amiga as rédeas cortará,
Não só do poder ou das tiras da mordaça,
Mas, das arestas pontiagudas ceifará,
A dor que em nossos peitos agoniza e assa.

Ressuscitada ela por certo viverá,
Nos corações de toda nossa humanidade,
E nunca mais um ser sequer contestará,

Ou bulirá com minha amiga Liberdade.

sábado, 19 de outubro de 2013

DILEMA




Dilema é a própria vida,
Não sabemos da chegada,
Nem tão pouco da partida,
Mas sempre é  concorrida.

Desde criança inocente,
Criamos nossos dilemas,
É coisa mesmo da gente,
Com variações de temas.

Já no café da manhã,
Se, vem pão com marmelada,
Diferente da irmã,
Se, quer queijo e goiabada.

Depois, carrinhos, petecas,
Peões, Heróis e o Frajola,
Meninas querem bonecas,
Meninos só querem a bola.

Então aprendem a ler,
Os números e contar,
Alguns gostam de escrever,
Outros de desenhar.

O dilema é sempre parte,
Do nosso cotidiano,
Alguns gostam da arte,
Outros de tocar piano.

Vem depois a adolescência,
Com mentiras e verdades,
Os pais testam a paciência,
Os filhos suas vontades.

Uns preferem namorar,
Outros, só praia e sol,
Alguns gostam de estudar,
Os demais de futebol.

Então vem outro dilema,
Qual profissão escolher,
Ser ator ir pro cinema,
Ou médico é que vou ser?



A profissão nem importa
Se, a faz de coração,
Porque todas abrem a porta,
Da vida e da paixão.

Mas, todos em certa idade,
Querem ter sua família,
Apaixonam-se, verdade,
E ganham filho ou filha.

Aí vem um ciclo novo,
Repetindo-se os dilemas,
Mudam as cenas, muda o povo,
Mas as dúvidas? Centenas...

Chega a hora da partida,
Nem sei se certo ou errado,
Porém dos que tive na vida,
Espero ter acertado.

Deixando como lembrança,
Só meus atos de coragem,
Levando o dilema esperança,

No prosseguir da viajem.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

HOMENAGEM AO POETA CONDORCET ARANHA

PREITO

Rubi E. Scheffel Filho - Restinga Sêca- RS
 
Cálidos sopros te embalaram a essência
Ostenta o garbo dos simples e vitoriosos
No teu cerne, do clã dos venturosos
Dádiva divina, perene, na existência
preito, do humilde pedo desconhecido,
Rogando aos céus, em sua plenitude
Certeza de paz na eternidade
E mistérios de luz na eternidade,
Te cubram de louros, na beatitude!
 
Arguto, empreendedor, estudioso
Rico de sonhos e pleno de metas
Árduo na pesquisa (suas diletas)
Na poesia, seu estudo criterioso
Humana e perene (ideal valoroso)
A aura simples moldura dos poetas!

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

ACADEMIA CONDORCET ARANHA






ACADEMIA CONDORCET ARANHA
Enio Batista Filipini - Formigueiro - RS
 
Aqui em Restinga Seca,
No nosso estado gaúcho,
Nasceu a Academia de luxo,
Sua missão é ser mensageira,
Condorcet Aranha se chama,
Muito orgulho se derrama,
Por esta nação brasileira.
 
Foi criada para levar,
Mensagens de paz e de amor,
Por talentosos escritores,
Registrando o mundo atual,
Passo a passo de norte a sul,
Cortando este céu azul,
A nível internacional.
 
Quero parabenizar,
Os idealizadores,
Por unirem escritores,
Para sua formação,
Demonstra que no momento,
Tem gente muito atenta,
Na cultura da região.
 
Aos colaboradores,
E a honrosa diretoria,
E a escritora Ilda Maria,
Nossa nobre presidente,
Deus conserve sua memória,
Enchendo páginas de glória,
Imortalizando gente.
 
Pedimos ao nosso Patrono,
Que ilumine a cada momento,
Por onde soprarem os ventos,
O nosso desejo profundo,
Espalhar nossa cultura,
Nas asas da literatura,
Nos quatro cantos do mundo.
 
Meu agradecimento,
Por ter sido convidado,
Um convite inesperado,
Que nunca sonhei que um dia,
Que eu fosse diplomado,
Por isso muito obrigado,
Presidente, escritora, professora, Ilda Maria.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Academia de Artes, Ciências e Letras Condorcet Aranha, de Restinga Sêca/RS





A Academia de Artes, Ciências e Letras Condorcet Aranha, de Restinga Sêca/RS. tem a honra de convidar-lhe para as Posses de sua Diretoria e dos Membros Acadêmicos Fundadores que ocorrerá no dia 24 de agosto de 2013, às 15 horas, no Plenário da Câmara Municipal de Restinga Sêca/RS, Rua Francisco Giuliani, nº 142.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A HISTÓRIA DE BRASIL VALENTE DOS SANTOS



                                                                                        
       Nascido numa favela do Rio de Janeiro, ironicamente, batizado como Brasil Valente dos Santos, aquele menino franzino, anêmico e abarrotado de vermes, venceria a todas as expectativas e, depois de passar fome, ser agredido quase diariamente por um pai bêbado, não ter a atenção da mãe, sofrer agressões físicas e morais por parte dos meninos maiores, chegaria à pré-adolescência cheio de mágoas, rancores e muita vontade de vingança.  Sim, muita vontade de vingança de tudo e de todos.
       Como freqüentou a escola por oito anos, ali conviveu com amigos que traziam em suas almas, as mesmas dores, as máculas irreversíveis e os mesmos ódios. Também aprendeu a enfrentar as crueldades com igual ira, única forma de sobrevivência nessas condições.
       Agora adolescente, lembrava da escola como uma verdadeira cadeia, porque, durante longos oito anos, ali sofreu castigos das professoras, das diretoras e até de alguns colegas maiores que, como elas, o viam como um menino sem educação, regras, respeito, enfim, um típico exemplo da maldade. Mas, assim era e ainda é o Brasil Valente dos Santos, um revoltado por nunca ter recebido um mínimo de atenção e carregar em seu físico doente as marcas de um passado de agressões. Como conviver diante desta realidade, dentro de uma sociedade tão desigual e entender seus parceiros, ex-professoras e diretoras da escola que jamais passaram um dia sequer, naquelas condições que talharam o seu físico, como também a sua personalidade? O seu coração batia sempre forte, portanto, estava vivo. Vivo e totalmente só, abandonado entre milhões de “cidadãos” que sequer conseguiam parar seus olhares na sua imagem por alguns segundos. Brasil Valente dos Santos sentia-se como um caco de vidro, transparente, mas invisível, estático, porém temido, tanto que ninguém dele se aproximava. Em seu interior, crescia a repugnância contra os mais abastados, a revolta pelo desprezo e a angústia pela falta de perspectivas futuras. Porém, a todos os seres vivos é dado o direito de interação no meio ambiente e cada coração bate, independente, e é capaz de ao seu modo, também amar.
       Sem saúde, sem cultura, sem respeito ou emprego, como esse jovem, um dos mais de alguns milhões, conseguiria colocar em sua boca um pedaço de pão? Então ele pensou:
       -    Vou procurar auxílio num órgão público de amparo à criança e ao adolescente. Assim ele fez, afinal, era valente até no nome. A indiferença com que foi recebido, o modo com que foi tratado durante sua estada, trouxe a sua mente nítida lembrança da triste infância e da fase escolar, ali, também estavam os grupos dos mais fortes que imperavam e subjugavam aos demais, num recinto fechado e sem direitos, mas com muitos deveres em sua maioria ilegais o que, certamente, o arrastaria para o vício, às drogas e à criminalidade. Portanto, se o Brasil Valente não era suficiente, ainda lhe restava o “dos Santos” e foi aí que o menino se encontrou com a fé, com a esperança e o amor. Fugiu da casa de amparo ao carente e caminhou sem destino, ao se deparar com uma linda igreja, entrou e depois do sinal da cruz, ali fez a sua primeira e mais sincera oração, apesar de nunca ter aprendido nenhuma.
       Ao sair da igreja, foi abordado por um senhor que perguntou, porque estava com aquela aparência tão triste? 
       Embora surpreso Brasil era valente e acabava de entregar-se aos Santos. Então, como sempre transparente como o caco de vidro, contou toda a sua história.
       Atento à narrativa do menino, o senhor sentiu fluir a sinceridade daquelas palavras e, comovido, convidou-o para ir trabalhar com ele em sua padaria. Assim, fez, deu-lhe morada, alimento, emprego e atenção.
       Uma semana depois, ao sair para o trabalho, às quatro horas da manhã, Brasil Valente dos Santos, foi vítima de assalto e ao reagir para defender o seu direito de cidadão honesto, foi assassinado com três tiros.
       Enquanto agonizava na sarjeta aonde vivera praticamente toda a sua existência, um rápido filme passou em sua cabeça: “Aqui está a imagem do Brasil, um derrotado que apesar de Valente, foi vencido pela criminalidade e entregue aos Santos antes da hora. E qual seria a minha hora, caso tivesse continuado na sarjeta? Teria conseguido concluir os meus sonhos e transformado em realidade as minhas ilusões, embora fossem maléficas e criminosas?”.
       Assim, partiu mais um cidadão brasileiro que tentou de todas as formas se manter na trilha do bem, envolvido pelas incertezas e irremediavelmente vencido pela insegurança.
       Em meio a tantas dúvidas, mentiras, corrupções, desigualdades sociais, criminalidade e total falta de assistência à criança e ao jovem, como poderia o nosso Brasil encontrar o caminho do bem, da prosperidade e da paz?
       Quantos serão os “brasis valente” que ainda entregaremos, prematuramente, aos Santos, até que a moral consiga se impor e junto com a vergonha encontre um espaço para se alojar na cabeça desses nossos governantes irresponsáveis e acumuladores de riquezas resultantes de fraudes e desvios?
       Brasil Valente dos Santos eu invoco o seu perdão por minha incapacidade de protegê-lo quando mais precisou, mas, tenha a certeza que te amo Brasil, respeito-o por todos os momentos que a vida o testou, pois, recebeu de ti uma atitude Valente e, hoje, vejo que você, também, foi Santo como esses outros que te levaram prematuramente.

          

sexta-feira, 26 de julho de 2013

“DAS CAVERNAS AO HOJE, O QUE SOMOS AFINAL?”



               


       Saímos das cavernas, lascamos pedras, caminhamos milhares e milhares de anos, mas ainda não saímos do lugar. Nascemos, crescemos e nos reproduzimos como qualquer outro animal, sem a preocupação dos espaços cedidos ou tomados. Espaços esses, dos quais jamais deveríamos ter nos afastado e outros que, jamais deveríamos ter ocupado.
      Como conseguimos relegar a planos insignificantes a natureza da qual fazemos parte e criar tantos objetos de consumo, capazes de aguçarem a nossa ambição e desnecessários à nossa sobrevivência? Como conseguimos ocupar tantos espaços onde nos eram oferecidos os aromas das flores do campo; o revoar de coloridas borboletas no bater de suas asas; o despertar da aurora nos raios dourados do calor aconchegante; a sinfonia inebriante dos pássaros cantores acompanhada pelo coral de cascatas e rios caudalosos onde, quando em quando, os peixes saltavam; o por do sol tentando pintar de vermelho o longínquo horizonte e finalmente o véu de estrelas cintilantes cobrindo nossos sonhos?
      Acredito que somos a poeira do tempo e no tempo, quando soterramos histórias de ancestrais e permanecemos omissos e insensíveis, às situações de extrema calamidade pública e social, com as quais nos deparamos no dia a dia.
      Guerras que mutilaram e mutilam seres, que ceifaram e ceifam vidas, atrás da égide que buscavam e buscam conquistas ou falsas liberdades. Enterraram sonhos, derramaram o próprio sangue sobre a terra, criaram nuvens de fumaça que roubaram o sereno azul do céu, petrificaram corações e banharam com lágrimas de arrependimento, os sepulcros que eles criaram.
      No complexo Planeta em que vivemos, precisamos nos encontrar e reconhecer nossa utilidade porquanto estamos destruindo, com nossos pés, todas as estradas nas quais caminhamos e, chamando de progresso, a tudo que construímos e inventamos. Estaremos usando a inteligência que recebemos para as devidas finalidades, ou transitamos por estradas que jamais deveríamos abrir?
      Nosso comportamento e atitudes merecem o apoio da mãe natureza, ou estão causando danos irreversíveis a ela e apavorando todos os seus outros filhos? Precisamos rever e reiniciar nossa caminhada, apenas como meros participantes dessa novela da vida, sem preconceitos, sem ambições, mas com amor e respeito. Também, com muita atitude e autocrítica, afinal não fomos premiados com inteligência para ficarmos omissos diante de tantos desmandos, corrupção e criminalidade. Nossa sabedoria é suficiente e deve formar juízes capazes de dar limites, não só às atitudes desrespeitosas, mas também punir devidamente àqueles que enxovalham a nossa sociedade.
      Há de se formar a opinião pública com preceitos de moral, respeito e educação, e arregimentar os cidadãos que realmente representam à vontade do povo, acreditando que seu País é e deverá continuar a ser o símbolo da esperança, onde a ordem e o progresso permanecerão inabaláveis. Porém, esses cidadãos, jovens e estudantes, com a arma do voto em mãos, junto com seus pais, irão às urnas e limparão nossa Pátria de tantas ingerências, tráfico de drogas e de influências, descaso com a infância e a saúde, falta de educação e cultura, livrando-nos de vez da vergonha de ter tantos maus exemplos, para nossas próximas gerações.
      Não haveremos de eleger nenhum dos atuais ocupantes de cargos públicos, do Presidente da República, aos Ministros, Senadores, Deputados Federais, Deputados Estaduais, Prefeitos ou Vereadores porque só assim, dando oportunidade àqueles que chegam, talvez com idéias melhores e, quem sabe, dedicados e honestos, mais rapidamente limparemos esta lama que tomou conta de nosso Brasil.
       Uso da palavra enquanto me permitem, pois muitos de nossos jornalistas e comunicadores já foram cerceados do direito de expressão, censurados e afastados de emissoras, num País onde se diz que vivemos a democracia, quando na verdade caminhamos perigosamente para um regime de imposições. A comprovação desse fato é evidente com os exemplos deixados pela vida de cada um desses políticos que figuram na história recente do Brasil.
      Acorde povo brasileiro, acredite, és forte o suficiente e tens nas mãos, as armas indispensáveis para abater esses inescrupulosos que mancham nossa história.

      Com a palavra e o voto nas mãos saberemos expurgar nossa Pátria, livrando-a dos maus exemplos, pois, se assim não fizermos, seremos comparsas ou, no mínimo, irresponsáveis e omissos.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

BRASILEIRINHOS

São filhos da terra e vivem mui mal,

Com mãos sofredoras, até retalhadas, 
Grosseiras, sangrando, por fibras malvadas, 
As fibras das folhas, do duro sisal.


Os corpos cobertos por parcos retalhos,
A pele tão rude em corpos, crianças,
Nos braços feridas cobertas com trapos,
Na mente, será? Carregam esperanças?

O sonho da escola? Promessas, mentiras,
Que embalam seus sonhos, em noite fantasma,
No agito da alma, entre crenças conflitas,
Rompe-se às vezes, na crise de asma.

Direitos humanos que enlevam assassinos,
Se prendem na mídia, se vangloriando,
Não vêem os apelos de tantos meninos,
Escondem com farsas, verdade ocultando.

Meninos que acordam aos raios de sol,
Que mal se alimentam e vão trabalhar,
Com carga nas costas, tal qual caracol,
Meninos que dormem à luz do luar.

Na ida e na volta, somente ilusões,
Durante a jornada?  Bastante pressão.
Calados ruminam em seus corações,
A ira e o repúdio à voz do patrão.

O físico e a mente são fracos, sofridos,
O corpo cansado lhes vence a razão,
Não têm respaldo pra serem unidos
E assim são curvados, às leis do patrão.

Seus pais semivivos da situação,
Semicorpos vencidos a serem punidos,
Desprezíveis atores da escravidão,
Tiveram a alma e o corpo ungidos.


No abandono das leis e de seus governantes,
Alheios ao mundo, ao amor e aos carinhos,
Seguem os meninos em trilhas errantes,
Meu Deus! Por favor, salve os brasileirinhos.

segunda-feira, 3 de junho de 2013




      Apesar de seus oitenta anos e viver sozinho, jamais alguém viu nos seus olhos ou mesmo na face algum traço de tristeza. Um exemplo para os seguidores da vida, pois nunca deixou de expor um sorriso ou abandonou, um dia sequer, o seu violão. Ainda com dedos ágeis, as melodias eram exemplarmente executadas e acompanhadas por sua rouca e suave voz.
     Ao cair da tarde, debaixo da enorme figueira-branca, sentado numa velha cadeira, com os dois primeiros botões da camisa desabotoados para melhor aproveitar os sopros da brisa, expunha parte de seu peito magro e, com um dos pés, fazia a marcação dos compassos, cantava e tocava o seu violão. Talvez pelos acordes do seu violão, a figueira ficava repleta de pássaros que cantavam juntos, como se a natureza os convidasse para comporem uma orquestra.
    Debaixo do surrado chapéu de palha, muitas vezes coroado por dejetos dos pássaros, dois olhos fundos, um resto de cabelos brancos e muitas rugas, pareciam acompanhar, assim como o tempo, a cada melodia, saída daqueles lábios finos e franzidos. As mãos encarquilhadas, uma deslizava pelo braço do violão formando acordes melodiosos e a outra dedilhava carinhosamente desde a prima até o bordão. A alegria fazia morada naquele rosto, cansado sim, mas jamais abatido por lembranças do passado ou frustrado pelas ilusões futuras. Era a certeza daquele que sabe viver um dia de cada vez, aonde o presente é o único tempo verbal a ser conjugado.
    Quando a noite insensível tentava apagar aquela linda e harmônica cena, Zé levantava da sua cadeira e se recolhia em sua modesta morada, enquanto os pássaros saiam em revoada em busca de abrigo para passarem a noite. Trancava a porta e deixava a janela aberta. Assim, mal despontava uma nova manhã, lá estavam os pássaros no para-peito da janela do Zé estourando os pulmões de cantar para que ele levantasse e fosse cuidar de sua pequena horta de onde tirava parte de seu sustento, como cuidar do galinheiro onde um galo e seis galinhas caipiras já o aguardavam. Todos ansiosos, sendo que uma delas era mantida no choco e merecia cuidados especiais para renovar o seu galinheiro e sua fonte de proteína.
     Depois de limpar sua horta, retirando as folhas atacadas por lagartas e outros parasitas, colhia duas espigas de milho debulhava-as e com o resto de comida do dia anterior alimentava o galo e as seis galinhas. Quando fora do ciclo do milho, a goiabeira e as bananeiras supriam todas as suas necessidades. Um único pé de laranja ocupou o último espaço do pequeno terreno e onde uma cabra ficava amarrada. Era uma vida simples, mas saudável, porém como ele comia arroz e feijão todos os dias? Era uma incógnita, diziam os vizinhos que só entendiam como ele fazia o pão de milho. Pois, o Zé nunca saiu de sua casa para lugar nenhum, viam-no apenas nas tardes sem chuva, sentado naquela cadeira tocando o seu violão, enquanto o galo e as galinhas ciscavam e comiam os matinhos e possíveis minhocas, acompanhados pelo estardalhaço de centenas de pássaros que se alternavam nos galhos da figueira-branca.
     A cada pessoa que passava em frente ao seu portão e lhe cumprimentava, ele respondia com um aceno abaixando a sua cabeça, um ritual repetido muitas vezes, mas nunca interrompendo a música que executava no velho violão, algumas pessoas até paravam por alguns minutos, não sabia o Zé se era para escutarem o seu violão ou a cantoria dos pássaros. Porém para ele, esse fato não fazia a menor diferença, era uma agradável satisfação.
     Anos correram como suas galinhas no pequeno quintal, alfaces e couves se renovavam, mas o Zé mantinha seus hábitos e seu repertório, inclusive o velho chapéu de palha que estava cada vez mais bordado pelos dejetos dos pássaros, a bem da verdade ele nunca o havia limpado. Suas trocas de roupa não passavam de três camisas e três calças, um par chinelos e o chapéu de palha. Nunca recebeu visitas, e todos se perguntavam, qual seria a verdadeira razão daquela vida solitária, não teria filhos ou parentes?
     Algumas pessoas chegaram a chamá-lo no portão para bater um papinho, mas não ficaram mais que uns poucos minutos porque o Zé era evasivo em suas respostas. Não deixava escapar nada que pudesse identificá-lo ou expressar seus sentimentos e certa vez quando um dos vizinhos tentava tirar alguma verdade do peito do Zé perguntando-lhe se ele vivia apenas com Deus, prontamente respondeu que não, que vivia sozinho mesmo. Com o tempo todos entenderam que ele respondia apenas os cumprimentos, nunca interrogatórios e se adaptaram àquela realidade.

     Depois de três dias sem verem o Zé tocando o violão debaixo da figueira-branca, alguns vizinhos resolveram chamar pelo Zé, como não respondia, acharam melhor entrar e ver o que estava acontecendo. No quarto encontraram-no deitado na cama, totalmente coberto de penas de pássaros, exceto o rosto estampado por um último sorriso. Ao lado da cama estavam dois montes de grãos: um de arroz e outro de feijões, e no seu bolso uma folha de caderno dobrada. Curiosos, resolveram ver se havia algum escrito, havia sim, praticamente a expressão da verdade vivida pelo Zé. Dizia ele: Acredito que nasci pela vontade, amor e atitude dos meus pais; vivi por minha determinação e escolhi o que achava melhor para mim; amei e fui amado por quem escolhi e agora terminou o meu ciclo e parti feliz. Caso contrário partiria triste e culpando alguém que fechou meus olhos, cegando-me, e também tampou os meus ouvidos deixando-me surdo. Fiquem com Deus que parto comigo. 

sábado, 18 de maio de 2013

É DE TARDE E CHOVE





Era uma tarde cinzenta, cinzenta fria e chuvosa,
Sentei na velha cadeira esquecida na varanda,
Sem pedir sentou-me ao lado aquela que é mais teimosa,
Rasga o peito, fere a alma e o coração que desanda,
Chega assim tão sorrateira que você sequer percebe,
Lembranças vêm do passado na solidão do presente,
Sem poder mandá-la embora, então a gente recebe,
E fica ali matutando tudo aquilo e até pressente,
Que bom final não terá com aquela chata visita.
Mas disfarça, olha a chuva, faz de conta e se comove,
Porque é experiente, fica triste e não se irrita,
A dor algema meu peito enquanto nos olhos chove.
Já cansado da cadeira, da varanda vou pro quarto,
Também cansado da vida e já sabendo a verdade,
Me acomodo, sinto frio, gela a alma enquanto parto,
Deixando aqui pra vocês esta maldita saudade.

sábado, 20 de abril de 2013

ESTRELAS OU PIRILAMPOS ?






À soleira da porta, sentado,
Coberto por sombras da noite,
Descanso meu corpo malhado,
Depois de um dia de aloite.

Procuro enxergar no horizonte,
Imagens que tragam esperanças,
Mas cedo a verdade, defronte,
São como ilusões de crianças.

O fim dessa estrada que está,
Ali onde os olhos alcançam,
Não param as idéias por lá,
Pois pelo infinito, avançam.

As sombras desenham na terra,
Imagens que vêm da lua,
Que dentro do peito se encerra,
A dor da verdade que é crua.

Não sei se a razão é mais clara,
No brilho da estrela no céu,
Mantendo a visão mais preclara
E o peito apertado e aréu.

Nem sei se a razão é açoite,
Que à luz do fugaz pirilampo,
Pretende mostrar-me na noite,
A dura verdade do campo.

Mas vivo feliz, compartilho,
Com o pirilampo, sozinho,
A solidão que sem brilho,
Faz sombra no peito que aninho.

Saudades eu sei que não levo,
Nem ilusões do horizonte,
O brilho da estrela eu enlevo,
Embora no tempo remonte.

Mas vou buscar na estrela,
A luz desse tal pirilampo,
Pois todas as noites ao tê-la,
Mostrou-me a dureza do ”trampo”.

Morando no céu, com a verdade,
Não corta o meu peito, essa serra,
Da solidão e saudade,
Pois ambas deixo na terra.



              

quarta-feira, 20 de março de 2013

NA DECADÊNCIA DO SER, PARTIR POETA.


 

 

Perde-se a humanidade nas fronteiras do progresso,
Na busca dos conceitos que consagre o mais moderno,
Pra ver o seu orgulho e prepotência no sucesso,
Pois, julga e se compara aos preceitos do Eterno,
Tentando ser maior e esquecendo do decesso,
Inevitável marco que separa o céu do inferno,
Enquanto, se exibe, na razão do réu confesso,
Deixando, na existência, a perder-se o que é fraterno.

Perdida nas delícias do que é mais vantajoso,
Exibe o poderio dos seus bens materiais,
Sentindo-se maior sob o olhar do invejoso,
Mas, sendo na verdade, o pior dos animais,
Mostrando o seu caráter altamente presunçoso,
Vivendo neste mundo, de consensos virtuais,
À margem da verdade em que o amor é tão gostoso,
Ao ser compartilhado com irmãos e nada mais.

Então qual o futuro para os “nobres cidadãos”,
Corruptos, descrentes, desonestos, criminosos?
O Paraíso eterno nas delícias do perdão?
O Inferno em labaredas por seus atos cavilosos?
Meu Deus! A humanidade só me deixa uma opção,
Morrer envergonhado, entre tais perniciosos,
Reconhecer que foram companheiros e irmãos,
Ou só partir poeta, longe dos audaciosos?




(Após a leitura do poema, o declamador concluirá o texto declamando apenas as palavras em negritos).




Nas fronteiras do progresso,
O mais moderno sucesso do Eterno,
Ser maior que separa o céu,
Na razão do réu que é fraterno.

É mais vantajoso, seus bens materiais
Sob o olhar dos animais, o seu caráter,
Neste mundo consensos virtuais?
O amor é tão gostoso ao ser compartilhado,
Nada mais...


Para os “nobres cidadãos” descrentes,
Delícias do perdão?
O inferno em labaredas?
Meu Deus, uma opção!
Morrer envergonhado, reconhecer irmãos,
Partir poeta.