sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A LAVADEIRA

Condorcet Aranha


Quando a luz do horizonte, seca as roupas nos varais,
O Bem-te-vi atrevido toma conta de você,
Como podes, lavadeira, esconder seus tristes “ais”,
Do menino preso à saia, te pedindo pra comer?

Com tamanha paciência e tanta trouxa a espera,
Lava, lava, sem parar, só não lava sua sorte,
Pois a vida que te leva, mais parece uma megera,
Arrastando-a sem piedade, pelos anos, para a morte.

E o menino ao se soltar desta saia rota e suja,
Vai correr pelos quintais, pelas ruas indomáveis,
E o destino, certamente, não vai dar uma lambuja,
Mas fará com que se junte ao cordão dos miseráveis.

Quando a luz já for da lua e não mais a luz do sol,
Poucas roupas nos varais, que nem mais lhe trazem o pão,
O menino ao te beijar, transpirando o etanol,
Sentirás, dentro do peito, apertar o coração.

Teu olhar se perderá, no infinito, na incerteza,
Pois, você, também perdida, poderá se questionar,
Mas, entenda que o mundo não tem lá tanta beleza,
Porque o mar morre na praia e alguém morre no mar.

É por isso que a verdade se esconde na ilusão,
Pra você manter a alma, carregada de esperança,
E então a vida passa, te levando à distorção,
De, com o tempo, ficar velha, sem deixar de ser criança.

Só na hora da partida ante um marginalizado,
Um criminoso, talvez, no último beijo dado,
Entenderás que, essa vida, tem um significado,
Pois tudo vale o momento de um amor recompensado.

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