quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

DIÁLOGO SOLITÁRIO

Condorcet Aranha                        


O caderno está aberto
E a caneta está na mão,
O poeta quer o verso
Por estar na solidão.

O canário muito esperto,
Na gaiola, solta o canto,
Se o momento é adverso
Não se justifica o pranto.

O poeta está confuso
Não lhe brota inspiração,
Da vida parece excluso
E escravo da solidão.

O canário? Canta forte,
Alegre e descontraído,
Entregando à própria sorte
O ser ou não aplaudido.

O poeta? Intrigado,
Faz ao canário a pergunta:
Tendo o seu canto escutado
A canária a ti se ajunta?

A gaiola está fechada
Te confina a quatro cantos,
A canária sem entrada,
Cansará de seus encantos.

O canário nunca fala,
É feliz e apenas canta,
Mas poeta se atrapalha
E até consigo se espanta.

Estou falando sozinho?
Com o canário da gaiola?
Sou ave que perde o ninho
Ou estou ruim da “cachola”?

Mas, poeta é como o encanto,
Da missa faz procissão,
Resiste como o amianto
Ao fogo da sedução.

 Segurando uma caneta
 Grande idéia logo tem,
 Pois vê olhando a ampulheta,
 Que a areia é escrava também.

 Ele, o canário e a areia,
 São mesmo três sofredores,
 Dois têm sangue nas veias,
 Mas ela não sente dores.

 Então, pergunta o poeta,
 Ao seu próprio sentimento?
 A qual dos dois mais afeta,
 A espada do sofrimento?

 E ele mesmo responde
 Em prosa e versos rimados:
 É tudo igual! Corresponde
 Aos danos que são causados.

 Porém, o canário cantor,
 Não concorda com a tese,
 Sem remédio para dor
 Sofre mais quando padece.

 Por terem sangue nas veias,
 Jamais cedem seu lugar,
 Também, não são grãos de areia,
 Que deixam o vento levar.

  Tanto o canário a cantar
  Qual poeta a versejar,
  Nenhum dos dois vai fugir,
  E a areia os vai engolir.          

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