terça-feira, 19 de abril de 2011

ALÉM DAS PALAVRAS


Condorcet Aranha


       Osmar adentrara na sala de espera de um consultório e, à sua frente, a esplendorosa imagem de Viviane toma toda sua atenção. Vacila por instantes, fica atônito e disfarçadamente, toma lugar em uma das cadeiras desocupadas.
A beleza daquela moça havia deixado Osmar numa verdadeira teia de aranha, por mais que tentasse, não conseguia evitar em arriscar outro olhar àquela beldade, emaranhando-se cada vez mais em sua discrição. Seu coração perdeu-se em ritmo acelerado e junto com a sua imaginação, fluíam sensações agradáveis, fazendo-o sonhar em plena tarde de primavera, bem determinada pela beleza do arranjo de flores, esteticamente, colocado sobre a mesa de centro da sala de espera.
       O relógio sobre a porta de entrada do consultório havia dado mais de uma volta, foi quando Viviane, chamada pela atendente, sumiu da paisagem que tanto agradava ao Osmar.
       Faltava um quarto de volta para que o relógio alcançasse às dezesseis horas, quando a paisagem foi recomposta para satisfação e vislumbre do pretenso Príncipe, arrebatado pela certeza de que teria que se aproximar daquele “pedaço de mau-caminho”, surgido em sua vida como em passe de mágica.
       Viviane parecia flutuar em seu vestido azul-claro, enquanto sua meiga e branca face era uma pequena nuvem, contendo dois pequeninos lagos muito verdes, separados por um fino e bem montado anteparo, sobreposto a um discreto sorriso em tom róseo e bastante discreto. Esse dócil conjunto ao passar pela mesa de centro, na sala de espera, acabou por confundir a primavera, deixando-a duvidosa sobre qual seria a beleza mais estética daquele momento. Óbvio que Osmar não teria nenhuma dúvida, caso fosse perguntado.
       Totalmente desvairado, ele praticamente esqueceu da onde estava e o que iria fazer. Levado por impulso irresistível, Osmar levantou-se e foi atrás de Viviane que já deslizava sobre o calçamento de mosaico português. Aproximou-se, estendeu-lhe a mão e sem palavras para o momento, deixou que seus olhos fizessem a devida corte.
       Reconhecendo o olhar que a perseguia na sala de espera do consultório, apesar de tomada pela surpresa, não conseguiu segurar seus lábios que outra vez deixou escapar aquele meigo e dócil sorriso rosado. Em seguida, como que imantada, sua delicada e macia mão, encontrou-se com a de Osmar e, hoje, elas cuidam das duas crianças com que Deus abençoou esse inesperado encontro, pois, o que menos importava eram as palavras.
       Agora e por toda a vida, não se cansarão de bem-dizer àquela tarde de primavera no consultório de fonoaudiologia.

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