domingo, 14 de agosto de 2011

PAI


Condorcet Aranha

Como falar de alguém que me foi completo,
Desde a minha infância à terceira idade,
De coração enorme, sereno e paracleto,
Com palavras duras em busca da verdade;
Carinhosas enchendo-me o peito que repleto,
Orgulha-se dele a cada instante, apesar da idade.
Não posso esquecê-lo, símbolo discreto,
Sequer consigo, separá-lo da saudade.

Escolheste a mulher e para mim, a mãe perfeita,
Deram-me um irmão, orgulho e gratidão,
Que hoje no Paraíso, ao lado de vocês se deita,
Mas que deixou aqui, no peito, seu próprio coração.
Como lembrar de ti, sem eles, se a saudade espreita,
Separá-los por sentimento ou por ablação,
É impossível desfazer em partes, a tinta branca que foi feita.
 
Sou só a imagem viva desse grande espelho,
A soma de emoções e os amores que perdi,
Representando na minh’alma, deles um parelho,
Agindo com respeito a tudo, como aprendi,
E agora velho, bate-me ao peito, um coração fedelho,
Brincando com meus, filhos, netos, entendi,
Que não existe tempo para ser zarelho.

Sequer eu percebi que tanto tempo vai,
Nem mesmo a distância em que ficou meu pai.
Não posso mais voltar pra lhe pegar a mão;
Dizer-lhe do vazio no meu coração
Ou mesmo preenchê-lo com lembranças loucas,
Que chegam dia a dia e somam com a emoção
Que embora sendo muita, pro vazio...poucas.

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