sábado, 10 de novembro de 2007

Sonhos marmóreos e a verdade

SONHOS MARMÓREOS E A VERDADE - poesia – autor: Condorcet Aranha

Sentado na lápide de um sepulcro,
embalado por marmóreos sonhos infantis
ante uma vida que julgava interminável,
até pensei que um destino esplendoroso,
apesar da fome, companheira inseparável,
rasgando o estômago num processo doloroso,
pudesse vir com a herança que não tinha,
de um passado mórbido e implacável,
a ressuscitar na alforria juvenil,
toda angústia de um peito abominável
em que a verdade sorrateira se avizinha
para provar que sendo um objeto com aresta,
estou ferindo inocente a sociedade
por querer participar da vida, essa festa,
que todos têm e almejam com ansiedade,
onde o futuro é somente quem atesta
se fui, diante do escrito por meu passado,
um alfarrábio criminoso e irresponsável,
por ter nascido de um estupro delinqüente,
ou se agora na verdade do presente
sou alguém, como ninguém, que não imundo
aqui na vida, essa herança Onipotente,
como são todos objetos deste mundo.

Em pé, ao lado da lápide de um sepulcro,
sentado na verdade de um adulto
embalo nos meus sonhos de saudade,
junto da fome que ainda sem indulto,
persiste nas lembranças do passado
para entender porque mantendo a lealdade,
agora tenho um coração abandonado
dentro do peito repleto de ilusões,
já no ocaso merencório do destino,
revendo a vida, oferece mil perdões
a tantos quanto lhe induziram ao desatino
ou até julgaram a aparência com maldade,
ante o semblante carrancudo e sofredor
que ainda busca na beleza do presente
colher nos ramos da incerteza o seu amor
e poder cantar, chorar, gritar, também sou gente.
Agora me banhando no futuro,
aonde as águas cristalinas não escondem meu passado,
revivo com certeza as emoções
sentidas lado a lado com as paixões
ciente de que o peito está seguro
convicto de que a solidão,
será a companheira como a fome
doída qual o injúrio das mentiras,
rasgando as mãos de quem as tome
para julgar ou entender um cidadão.

Assim a despedida é mais serena,
a noite se completa em escuridão,
a brisa pelo vale é mais amena
e a lua não renova e sim se esconde.
Os sonhos, as saudades e as lembranças
prescrevem como angústias de crianças,
deixadas sobre a lápide marmórea,
sepulcro inexorável da verdade,
que não refuta o seu filho inconseqüente,
por ter acompanhado a sua história
iniciada num estupro delinqüente.

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(A versão italiana desta poesia ficou entre as dez finalistas do Concurso Internacional de Poesias “Il Giunco”, Itália, obtendo o 5° lugar na votação dos leitores.)

Obteve também o 1º lugar no Premio Internacional de Poesias – Santa Maria della Luce- (Itália) 2007.

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