Não fosse a expectativa do esperar e com muita fé, chegaríamos a perder a confiança em conseguir, ao menos em parte, aquilo que sonhamos ou apenas desejamos. Certamente, a média entre conquistas e perdas da função de uma variável como é a própria vida, totalmente aleatória, acaba por fazer uma distribuição sobre essa mesma variável.
Assim, funciona a âncora da vida, a eterna incógnita que desafia a capacidade do homem, espremida entre duas constantes estabelecidas por cada ser humano, isto é, a fé e a caridade.
A mulher, desde a sua primeira gravidez, começa a esperar, não só pelo nascimento do filho, como também para que tudo corra bem, a criança seja saudável e ainda tenha muitos anos de vida, juntamente, com o sucesso e a felicidade.
Com uma análise mais crítica, os mais intelectuais tomam por base o número médio esperado de anos de vida para um indivíduo, calculado a partir de padrões de mortalidade da respectiva população do ambiente em que vivem, para planejarem suas atividades e expectativas.
Por outro lado, uma parcela da civilização, talvez menos esclarecida, acaba por fantasiar suas idéias criando alguns mitos sobre a incerteza de que é acometido, se conseguirá esperar e quiçá alcançar seus sonhos e expectativas. Chegam até ao cúmulo absurdo de enfeitiçar o coitado do inseto ortóptero, tetigonióideo, com antenas longas, geralmente verde, devorador de culturas, dando-lhe a dura responsabilidade de obter o sucesso.
Dessa forma, apesar de não compartilhar inteiramente com nenhuma das colocações anteriores, devo aceitá-las como um linimento àqueles que nelas encontram sua razão de vida, lançando-as ao alto mar de sua existência.
Mas, qual o quê! Acreditar em variáveis e tentar conduzir a própria vida sobre o resultado médio de uma função também aleatória, jamais poderá resultar numa distribuição mais equânime da humanidade. Temos apenas que entender o que somos e aceitar a realidade. Fugir do imprevisível, deixar de criar expectativas sobre sonhos ou dados fictícios ou ainda esperá-los, é querer roubar da própria existência a sua essência e beleza, além de se omitir dos desafios que ela nos traz.
O “estar de esperança” da mulher que vê seu filho nascer e, dentro do conceito da “esperança matemática”, deseja-lhe uma “esperança de vida”, há de se entender que diante das três virtudes básicas da teologia, a segunda é apenas uma âncora e não um porto seguro. Portanto, se um certo dia, ainda jogar nas costas do indefeso inseto ortóptero, toda a responsabilidade de uma vida, inevitavelmente, como eu, exclamará:
- “Que esperança! “
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