POR ALGUMAS HORAS DE VOLTA AO PASSADO
Sem saber como teria acontecido aquele fato, Wesley estava de volta ao passado, exatamente na data em que perdera seu filho e também um de seus maiores amigos, o Victor, que inclusive era padrinho de Wilker. Olha para o calendário afixado na parede da sala e nele está marcado, com um circulo vermelho, o dia dois de janeiro de 1999, quando o terrível acidente houvera ocorrido. Na mesma parede, um pouco acima do calendário o velho relógio, herança de sua mãe, marca precisamente oito horas da manhã. Nesse momento, Wilker passa por ele e diz que vai jogar bola no campo perto do rio. Ele está com nove anos, aliás, os tantos que viveu e também com a mesma roupa de cinco anos atrás. Wesley procura se controlar diante do que está revivendo. Estaria sonhando? Olha o relógio no pulso e confere a data: dia 02 de janeiro de 2004. As roupas que está vestindo são as que comprou há menos de um mês. Vai até a janela, olha para a rua e depois de perguntar a data para algumas pessoas conhecidas conscientiza-se, como seu filho estava lá repetindo palavra por palavra, tudo que havia dito e conforme ocorrera no dia do acidente? Uma nova chance? Poderia mudar o curso dos fatos? Os cinco anos de sofrimento teriam motivado Deus a lhe dar uma nova vida? Wesley confuso e desorientado, perguntava-se: Como agir?
- Finalmente, toma a decisão que, para ele, seria a mais óbvia naquele momento e começa agir de forma a evitar o acidente que levou seu filho e o melhor amigo.
Novamente olha o relógio, são oito e meia da manhã, sabe que Victor chegará as nove e irá encontrar-se com Wilker antes das nove. A bola do menino vai cairá no rio, Victor tentará pegá-la e a correnteza o levará; Victor se jogará nas águas para salvá-lo e também levado pela correnteza. O tempo urge, Wesley está angustiado porque no dia do acidente não estava ao lado do filho, hoje, só ele pode mudar o curso dos fatos. Corre até o campo e desesperadamente chama o filho, Wilker atende prontamente e vem ao seu encontro com a bola debaixo do braço. De mãos dadas voltam para casa e encontram-se com Victor que está chegando. Wilker corre e pula no pescoço do padrinho e antes que conversem, Wesley interfere e diz que precisam ir à missa das dez. Victor concorda e faz o menino vestir uma linda roupa (Wesley nunca mais havia mexido no quarto do filho, mantinha tudo do jeito que estava há cinco anos atrás). Em seguida, na sala, encontram com Wesley e dizem: Vamos?
As nove horas e quarenta minutos saíram. Wesley relembrava a sua felicidade ao lado de Wilma, mãe de Wilker e no seu subconsciente jurava que traria toda essa felicidade de volta se Deus assim o permitisse. Faltam sete minutos para as dez, param na esquina e aguardam no semáforo. Um cachorrinho tenta atravessá-la, um caminhão se aproxima em alta velocidade, Wilker corre para pegá-lo.
- Wesley e Victor tentam evitar, não conseguem.
- O caminhão os atinge.
- O cachorrinho consegue chegar do outro lado da rua.
- Faltam cinco minutos para as dez horas, como ocorrera há cinco anos atrás.
Wesley, Wilker e Victor se encontram com Wilma e como sempre, muito falantes, caminham lado a lado, alegres e sorridentes.
Começa a missa das dez e o reverendo solicita a todos que, em pé, rezem a “Ave Maria” pela passagem de Wesley, a única vítima do acidente que num impulso tentara salvar um cachorrinho.
Deus havia escutado Wesley e por isso devolveu-lhe Wilma, Wilker, Victor e a felicidade.
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