Raiava mais um dia em minha vida, apenas,
Os mesmos sentimentos todos já vividos,
Chorei por meu passado quando as cantilenas,
Dos zéfiros da tarde que em seus fluídos,
Previam que a noite apagaria as cenas,
De apenas mais um dia a mim oferecido.
Que importa mais um dia se não mais te tenho?
Raiar de novo o sol pra alguém que está cego?
Porque das cantilenas sobre um rosto cenho?
Não quero mais sentir, ouvir e nem me entrego,
As tolas esperanças, por um novo engenho,
Pois não desejo mais sequer pregar um prego.
Não vou fugir dessas agruras de tormento,
Nem mesmo hei de por a corda no pescoço,
Aguardarei heroicamente o meu momento,
No velho corpo que agora é pele e osso,
Também o lar de uma alma por um tempo,
Que nem sei se existe ou é tampa de um fosso.
O corpo podre irá pra terra com certeza,
Será adubo da semente ao nascer,
Enquanto a alma subirá, é incerteza,
Como um balão ao céu distante? Como ver?
Nenhuma crença me completa a natureza,
Sem alicerce, como erguer, sem entender?
Não deixarei que minha vida, a grande obra,
Que ficará nas mentes vivas por lembranças,
Seja artefato dessa fé que é uma manobra,
Das crenças doces, qual sorvete, das crianças,
Que se derrete em pouco tempo, nunca dobra,
E apenas some... parte junto às esperanças.
Por isso os versos do poema expressam dúvidas,
E se emaranham em sentimentos controversos,
Nos labirintos de existências que já pútridas,
Trazem nas tardes seus fluídos que dispersos,
São nauseantes e se espalham em doses místicas,
Ao ofertar-me mais um dia, dos perversos.
Quem assim escreve não precisa de elogios para saber que o que escreve é bom.
ResponderExcluirGostei imenso e aqui deixo o meu apreço.
José Aranha