Trabalha trabalhador, do sol nascer
até se por. Beba a água do cantil. Enxugue o peito molhado. Mergulhe na
solidão.
Enfrente a hora que passa, mais lenta
que o teu desejo, quando comendo a polenta, no descanso do almoço, viajas nas
esperanças. Mas deixe o teu coração, repousar sobre os teus sonhos, que apesar
de enfadonhos, te darão novo vigor, pra que a tua pulsação, leve o sangue aos
extremos, pra não te curvar à chibata, do insensível patrão.
Trabalha trabalhador, não descanse na
enxada, pois se ela está parada, te faltará quase o nada. Resista este sol
ardente, que insiste em queimar-te a pele, pois ele é tua energia que empurra
esses braços fortes, na luta por mais um dia.
Com os goles d’água que bebes, engula
um pouco de fé, à sombra das laranjeiras. Quem sabe esse sabiá, chilrando essa
melodia, tristonha como essa tarde, encontre nos alfarrábios de grandes
compositores, a partitura capaz de te trazer alegria e também nova ilusão, pra
seguir o teu destino.
Trabalha trabalhador, que o brilho do
teu suor, escorrerá para a terra, enterrando toda a dor. E quem sabe, fique
leve, deixando até flutuar, no espaço de tua mente, conjecturas felizes de amor
e até de desejos.
Mas, a fé que conseguires, tomar com
os goles d’água, servir-te-á de consolo, quando a enxada companheira, te for
pesada demais. Serás então invadido, pela brisa da saudade que sem te pedir
licença, invade teu coração. Então sofrerás sem tréguas, a dor da desilusão, na
incerteza inevitável que estará entre os calos, criados em tuas mãos.
Nessa hora vai sentir, queimar o teu
coração, a flama da impotência, a saga da dependência, do vil arrependimento.
Mas sem ter uma opção, há de crer nessa verdade, do início e do fim, à qual
sempre resistimos e não queremos aceitar. Porém quem veio pro mundo e se fez
trabalhador, fez-se exemplo de humano, de gente a se respeitar.
Cresceu e fez crescer. Amou se deixou
amar. Entregou aos descendentes, talvez um mundo melhor.
Somente quando partiu, indagou-se até
surpreso! Será que valeu a pena? É essa a razão da vida? Em meio a tanta
alegria, lazer e muita orgia, eu optei pela enxada. Calejei as minhas mãos, pra
comer foi pouco pão, nem sequer eu vi o mundo. Agora me vou daqui, de onde não
levo nada, vazio como cheguei. Sentindo
que a minha alma, ficou repleta de dor, nas costas, braços e mãos, porque
insisti em ser, apenas trabalhador.
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