quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ALMA DE CRISTAL


 Condorcet Aranha

Não quero almagamar um puro sentimento,
Nem ser durante a vida um mago presciente,
Mas, não serei omisso, sequer, um só momento,
Porque entendo bem, sem ser inteligente,
Que se cristalizar o meu comportamento,
Eu mostro para o mundo o que sou: só gente.

Portanto o prescindir não é do meu caráter,
Por isso a minha alma vaga sem mistério,
Então, sem ser um clérigo, não quero fráter,
Tão pouco me envaideço por usar critério,
Pois estou certo que não sou célula mater,
Ou mesmo um bom exemplo, apesar de sério.

Assim, como o cristal, a minha alma é pura,
Translúcida e brilhante a refletir a luz,
Em busca de outra vida, se existir, futura,
Aonde há um paraíso que ao amor conduz,
Aos sons inebriantes de uma tessitura,
Imposta pela fé que a prosseguir, induz.

Porém, caso contrário, a ilusão se imponha,
E quebre-se o cristal de minha alma pura,
Sentir-me-ei inseto, pior que uma bironha,
Nadando no estrume da cavalgadura,
Enquanto o peito cheio por tanta vergonha,
Explodirá, por fim, sem permitir sutura. 








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