Condorcet Aranha
O caderno está aberto
E a caneta está na mão,
O poeta quer o verso
Por estar na solidão.
O canário muito esperto,
Na gaiola, solta o canto,
Se o momento é adverso
Não se justifica o pranto.
O poeta está confuso
Não lhe brota inspiração,
Da vida parece excluso
E escravo da solidão.
O canário? Canta forte,
Alegre e descontraído,
Entregando à própria sorte
O ser ou não aplaudido.
O poeta? Intrigado,
Faz ao canário a pergunta:
Tendo o seu canto escutado
A canária a ti se ajunta?
A gaiola está fechada
Te confina a quatro cantos,
A canária sem entrada,
Cansará de seus encantos.
O canário nunca fala,
É feliz e apenas canta,
Mas poeta se atrapalha
E até consigo se espanta.
Estou falando sozinho?
Com o canário da gaiola?
Sou ave que perde o ninho
Ou estou ruim da “cachola”?
Mas, poeta é como o encanto,
Da missa faz procissão,
Resiste como o amianto
Ao fogo da sedução.
Segurando uma caneta
Grande idéia logo tem,
Pois vê olhando a ampulheta,
Que a areia é escrava também.
Ele, o canário e a areia,
São mesmo três sofredores,
Dois têm sangue nas veias,
Mas ela não sente dores.
Então, pergunta o poeta,
Ao seu próprio sentimento?
A qual dos dois mais afeta,
A espada do sofrimento?
E ele mesmo responde
Em prosa e versos rimados:
É tudo igual! Corresponde
Aos danos que são causados.
Porém, o canário cantor,
Não concorda com a tese,
Sem remédio para dor
Sofre mais quando padece.
Por terem sangue nas veias,
Jamais cedem seu lugar,
Também, não são grãos de areia,
Que deixam o vento levar.
Tanto o canário a cantar
Qual poeta a versejar,
Nenhum dos dois vai fugir,
E a areia os vai engolir.
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