segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

EM VIDA EU VI

Condorcet Aranha

Os olhos meus, em lágrimas, arregalados,
Ao ver à margem, verdejante, de um rio,
Tanta folhagem e também galhos quebrados,
A esconder a vida, em prantos, num sombrio,
Fecharam-se, doridos, tensos, repetidos.
Porque assim, talvez, meu próprio brio,
Justificasse aos olhos turvos, meus sentidos,
E ao coração até roubasse o calafrio.

Pura ilusão, prefácio da ilusão maior,
Pura verdade, porém, uma verdade horrível,
Tal qual resumo sôfrego da porção menor,
Onde o enredo torpe é incompreensível.
Julguei na vida, já ter visto, tudo.
Pensei um dia, me orgulhar de mim,
Mas ao lembrar de mãe, eu fiquei mudo,
Porque meus olhos viam, era o fim.

O fim daquilo que também julguei,
O ser maior e ao qual chamamos gente.
Mas, perceberam os olhos, quanto me enganei,
Ante a verdade, cruel, ali na minha frente.
Toda lembrança, doce, da infância linda,
Do eu, ser criança, alegre, livre e inocente,
Acariciada pela mãe que, hoje, ainda,
É santa e não será jamais abandonada.


Após declamar a poesia, para concluir o texto, o declamador seguirá lendo apenas as palavras em negrito.

sábado, 29 de janeiro de 2011

VOU

Condorcet Aranha 

As angústias do partir,
Começam duras, cruéis.
São difíceis de engolir,
Tal qual engolir papéis.

Tem repentes de pavor
Outros de pura saudade
E entre o ódio e o amor
Irás com a dignidade.

Pouco a pouco é a verdade
Quem toma o teu coração,
Não importa a tua idade
Nem  mesmo o que tens na mão.

Porém dentro do teu peito
A maldade se dilui,
Enquanto o corpo no leito
Alquebrado logo rui.

Surgindo as novas lembranças,
Enquanto o teu corpo finda,
Não te morrem as esperanças
De conseguir algo ainda.

E entre a cruz e a espada
Não poderás decidir,
Embora te reste o nada
É tudo que tens pra partir.

Quando te chega a hora,
Só você não vê o fim,
Não sabe que foi embora
Deixando essa vida assim.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

PENSAMENTOS DE CONDORCET

"A infância é a primeira parte da vida, a segunda parte não é vida".

PENSAMENTOS DE CONDORCET

"Homens e mulheres são iguais. Ambos serão futuros cadáveres".

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

OPÇÃO

Condorcet Aranha 

      Mariano era universitário, como tantos outros, que buscava no conhecimento qualificado a capacitação necessária para se tornar um profissional respeitado. Possuidor de uma esmerada educação que lhe fora proporcionada no seio de uma família financeiramente abastada, tinha nas mãos todos os requisitos indispensáveis àqueles que com firmeza buscam o sucesso ou seus propósitos de vida. Sua mãe, Margareth, era muito conceituada no nobre bairro aonde morava devido às suas atividades de cunho social. Sempre preocupada com os menos favorecidos e detentora de uma enorme paciência capaz de atender a tantos quantos dela necessitasse a qualquer momento, com total imparcialidade, já desfrutava de alto conceito, era considerada uma das mais eficientes assistente-social da cidade. Artur, o pai, Meritíssimo Juiz da Comarca, era respeitadíssimo por suas decisões marcantes, tido e considerado como inimigo número um da contravenção, do crime organizado e do tráfico.  Além de todas estas circunstâncias favoráveis, o jovem Mariano, ainda era inteligente, fisicamente bonito e extremamente comunicativo. Vivia rodeado por amigos e amigas, muitas das quais totalmente seduzidas pelas virtudes daquele verdadeiro príncipe encantado. Aluno do curso de engenharia e atraído pela arquitetura antiga dos prédios da Universidade Federal aonde estudava, passava suas horas livres visitando os diversos institutos que compunham o campus universitário. Numa de suas andanças, quando visitava o prédio do Instituto de Filosofia, intrigou-se com uma moça que ficava totalmente isolada, sentada à sombra em um dos degraus da grande escadaria de acesso ao prédio. Intrigou-se não por vê-la ali, naquele dia, mas por ser a terceira vez que visitava o instituto e presenciava a mesma cena, com a mesma pessoa. O comportamento diferenciado da universitária instigou a curiosidade de Mariano que não se conteve e se acercou da moça. Perguntou-lhe, após apresentar-se, porque estava sempre isolada e tão pensativa. Educadamente, respondeu-lhe que seu nome era Emília e estava no curso de filosofia por determinação. Pensava, no futuro, com os conhecimentos adquiridos na universidade, encontrar caminhos capazes de ajudarem os moradores de sua comunidade, dando-lhes cultura e principalmente uma visão de horizonte. Onde, talvez, estivessem guardadas diferentes opções de vida para seus semelhantes. Não podia aceitar que a marginalidade, os detentores do capital, os traficantes, os criminosos e os inescrupulosos, dominassem a sociedade e impusessem aos homens de bem uma situação de subserviência e incapacidade de reação. Ademais, depois de formada, deveria justificar o diploma obtido desempenhando suas funções com extremo profissionalismo, irreparável honestidade e o principal, justificar a si própria que todo esse empenho deve acabar num resultado óbvio: que é a vitória dos justos. Pediu desculpas ao Mariano por ter se prolongado tanto em suas palavras e completou, que só estava desfrutando dos bancos universitários de uma universidade federal porque um rico industriário, ex-patrão de seu falecido pai, custeou-lhe todos os estudos em escolas particulares de bom nível e terminou dizendo que era de origem muito pobre e que vivia em uma favela. Mariano a interpelou:
    - Como me pede desculpas por me fazer uma exposição de motivos de extrema beleza, de coragem, de propósito de vida, de consciência e muito mais, por ser alguém que tem guardado no peito o puro e sincero amor ao próximo? Nada disso! Preciso agradecer-lhe pela oportunidade de conhecê-la e peço-lhe que me permita, a partir de hoje, compartilhar contigo de um pedaço desta sombra, nesse mesmo degrau de acesso ao prédio. Emília concordou de imediato, porque o rapaz foi capaz de escutá-la, atentamente, e nenhum momento demonstrou se sentir angustiado ou cansado com o assunto, muito pelo contrário, fitava-a com extremo interesse como uma criança diante da vitrine de brinquedos às vésperas do natal. Ali, teve início uma parceria harmônica de diferentes interesses profissionais, mas de uma afinidade de sentimentos humanos, capaz de causar inveja a qualquer Papa em busca da paz entre povos. Mariano sentia-se como que acordando para a vida diante das exposições feitas por Emília, salpicadas por meigos sorrisos e vigiadas por um par de olhos que procuravam num horizonte perdido as soluções para seus anseios e, ao mesmo tempo, guardavam dentro de si um brilho capaz de ofuscar o raiar do sol numa manhã de primavera. Emília ainda externou o seu descontentamento com a atual situação da sociedade em que os capitalistas, a grande minoria, detinham em suas mãos as rédeas do destino de todos os grupos sociais, usando-os, invariavelmente, em suas torpes ações como: o tráfico de drogas, contravenções, crimes e ainda contavam com a total desestruturação dos órgãos públicos, infiltrados por agentes da falsidade. Portanto, agindo com a certeza de jamais serem alcançados pelas garras da lei, hoje decrépita e frágil, além de vítima de uma série de omissões daqueles que deveriam dar, se preciso fosse, suas próprias vidas em defesa da população que acreditando em seus discursos irresponsáveis, acabaram por depositar suas esperanças nesses “senhores”. A sabedoria e a convicção de Emília, dia a dia, cativavam mais a atenção de Mariano que encontrava em suas palavras o coro de seus próprios ideais e assim essa parceria se tornava muito estreita, fazendo com que ele em todos os fins de tarde, após as aulas, deixasse Emília na entrada da favela aonde morava. A constância com que se encontravam e o tempo cada vez maior que usavam em suas trocas de idéias, afastavam-lhes sistematicamente dos demais colegas. Por essa razão, vários comentários surgiram sobre aquela amizade, que apesar de iniciada como uma grande afeição entre irmãos, já suscitava dúvidas em alguns colegas que juravam se tratar de um caso devidamente consumado.
      Ao tomarem conhecimento do fato, os pais de Mariano começaram a inquiri-lo e pressioná-lo, porque pertencendo a uma parcela diferenciada da sociedade, aquele caso que estava tendo poderia lhe trazer sérios danos à imagem de um futuro profissional de elite. Ele tentou explicar aos pais que não se tratava de um caso e sim de uma identidade ideológica. Foi inútil porque tanto os pais como a grande maioria dos colegas, tinham seus pensamentos centrados exclusivamente em bens materiais, mídias e consumismo exacerbado. Porém, com o passar do tempo, regidos pela razão e verdade, os sadios propósitos de vida, tanto de Mariano como de Emília deveriam vencer. Durante os cincos anos de suas vidas universitárias, eles com extremo cuidado, elaboraram aquele que seria, como diziam: o “Plano para o futuro”.
      Ao se formar, Mariano deixou de lado todas as mordomias e bens materiais, indo morar em um barraco na favela junto com Emília, para desespero dos seus pais e espanto de seus ex-colegas. Iniciaram de imediato a pôr em prática seus ideais e de acordo com o planejamento cuidadosamente traçado ao longo de cinco anos. Junto à comunidade, aos comerciantes e industriários da região conseguiram as adesões indispensáveis para criarem uma Associação à qual denominaram “Somos Gente”, dando o primeiro passo no sentido de agrupar os interesses das pessoas de bem e do comércio e indústria que ali geravam empregos e em contrapartida precisava de maior segurança. Recebendo quase todos os moradores da favela como associados, a maioria de desempregados, foram formando mutirões organizados pela Emília, enquanto Mariano arrecadava materiais de construção através de doações e elaborava os projetos, construindo galpões aonde passaram a ministrar aulas, criar pequenas bibliotecas e desenvolver diversas atividades sócio-culturais, todas com a participação de voluntários locais, qualificando os moradores que passaram a encontrar vagas de trabalho na indústria e comércio da região. Com o desenvolvimento e os melhoramentos inseridos na favela, além do envolvimento dos pré e adolescentes nos diferentes programas, o tráfico de drogas, os roubos e os marginais ficaram totalmente acuados sem conseguir adeptos para seus desígnios maldosos, tais como: os “guardas”, “laranjas”, ou “mulas”. Logo, esses pulhas da sociedade, perceberam essa pressão e tomaram a decisão de se mudarem porque ali não havia mais espaço para o crime.
      Numa última tentativa desesperadora e acreditando poder inverter a situação, a mando de um juiz corrupto que fraudava decisões judiciais para favorecer o tráfico de drogas e os atos espúrios dos marginais, dos quais recebia vultuosas quantias em dinheiro, emboscaram e raptaram Mariano e Emília. O fato deixou a comunidade revoltada e mobilizou todos os setores policiais para resolver o problema.
      Surpresos pela repercussão do seqüestro e impossibilitados de relaxar ou mesmo liberar as vítimas para não serem identificados, depois de dez dias, os criminosos efetivaram aquilo que é a mais covarde e repugnante atitude, pondo fim prematuramente àquelas duas vidas tão importantes para a região e sua população. Depois que os corpos foram localizados, examinados pelos peritos criminais e posteriormente pelos médicos legistas, ficou constatado não ter havido, além das perfurações por projéteis penetrantes, nenhum tipo de sevícia ou estupro, inclusive que Emília era ainda virgem, caracterizando-se, portanto, como crime encomendado, com a finalidade exclusiva de os eliminarem.
      Na praça principal da comunidade, projetada e construída pela Associação Somos Gente e seus colaboradores, erigiram os bustos de Mariano e Emília, numa só peça, aliás, como sempre viveram com seus ideais. Na lápide ao pé do marco, lia-se os seguintes dizeres: “Como o bronze dessa estátua, dois ideais fundiram-se em favor da comunidade e das pessoas de bem, jamais um simples caso poderá alcançar tão alto desígnio”.
      Presos os criminosos e o juiz mandante, próprio pai de Mariano, acabaram por ser totalmente esquecidos, restando aos demais marginais abandonarem a ex-favela.
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Concorso Internazionale CaArteiv 2010.
Primo Premio in Racconti: Condorcet Aranha "Opzione

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

PERDÃO

Condorcet Aranha                            

Sob a luz intensa do raiar do dia,
Eu inda chorava aquela madrugada,
Quando absorto numa louca orgia,
Nem me apercebi do quanto te enganava.

Tive o sol na mente, por faze-la triste,
Tive o sol no peito, pelo amor que existe,
Tive o sol na face, por seu dedo em riste,
E tive o sol na mão, quando me sorriste.

O fervor que veio à minha mão, à palma,
Apertei no peito, pra queimar-me a alma,
Pelo desrespeito por causar-te um trauma.

Mas o teu sorriso, ao doa-lo a mim,
Voto de perdão, de paz, paixão enfim,
Foi pra eternidade, um amor sem fim.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

LIVRO HISTÓRIA DO FAMALIÁ -DESTAQUE NO IL CONVIVIO Nº16

O Livro do Poeta Condorcet Aranha foi destaque na 16º Edição do IL CONVIVIO - Trimestrale di Poesia e Cultura dell' Accademia Internazionale - Castiglione di Sicilia - Itália - 2004
Histórias do Famaliá, contos e crônicas 2003 - 141 págs.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

SONHOS OU VERDADES



PREFÁCIO

SONHOS, TEIAS E UTOPIAS


Por: Edir Meirelles 
Poeta, ensaísta e romancista.   

 “O sonho é a miséria dos que as têm acordados.”                                                                                                                                            Cervantes. Dom Quixote – Parte segunda, cap. LXVIII.


      Conhecia, já, o excelente poeta Condorcet Aranha. Entretanto, não sabia que por trás de seu poetar havia também um emérito prosador. Seus contos e crônicas são objetivos, diretos e, embora sejam predominantemente oníricos, abordam assuntos da atualidade. Trabalhado num linguajar moderno, trata o verbo com correção e é capaz de metáforas inesperadas. Tudo em estilo fluente e marcante. Os seus textos perpassam elementos de filosofia, de moral, dos bons costumes, do Direito Universal.
      A força preponderante deste autor premiadíssimo é a utopia. Ela é a alavanca que movimenta ideologias, crenças no ser Humano e alimenta os sonhos deste escritor fluminense radicado em terras catarinenses que, além da verve própria dos papa-goiabas, certamente se inspira no inigualável poeta Cruz e Souza.
      Sonhos ou Verdades estão lavrados em literatura que, por certo, atrairá os leitores para deliciá-los, a um só tempo, pelas qualidades intrínsecas, surpreendentes e pelos desfechos incomuns. Apenas para exemplificar: o conto O centurião de rosto cenho... é de uma beleza e uma expressividade dificilmente encontráveis neste gênero literário. O onírico permeia a obra de Condorcet. Um autor que nos provoca e mostra o quanto nós escritores somos sonhadores – sugerindo situações aonde, somente aqueles que tangenciam as fronteiras do imaginário, são capazes de determinadas ousadias – possíveis somente no campo da criatividade.
      Aranha entende de fios, tramas e armadilhas. Sabe manusear com maestria  as lançadeiras do tear literário e promover urdiduras para encantamento dos leitores. Paradoxalmente, sua utopia,  tem os pés no chão das possibilidades. Seu realismo é no sentido amplo da expressão. Sem mágicas mirabolantes. Suas armas são a realidade social, nela penetra com a alma e o archote do mineiro que busca na profundidade o veio precioso.
Um escritor que não teme mergulhar na lama de nossas mazelas. Sabe localizar a pepita em meio à putrefação tal e qual a floração que nasce e se nutre no pântano. Como o aracnídeo, sabe tecer os fios e, de sua aparente fragilidade, construir a teia que aprisiona os ávidos devoradores de livros. O conto Rodriguinho, um “mané” com quem muito aprendi, se constitui num hino à falta de opção de nossos jovens marginalizados. Um primor de denúncia político-social, com profundidade e substância, à semelhança do Analfabeto Político de Bertolt Brecht.
      Alguns contos possuem estruturas com elevado grau de complexidade. Isto não significa demérito, ao contrário, sugere que o autor pode estar a caminho do romance, como ocorre com O filho do defunto. A poesia perpassa seus textos até mesmo nos pontos mais dramáticos. O boneco de piche é outro primor da elaboração literária, seu conteúdo é intenso, comovente, humano.
      As crônicas de Condorcet Aranha são explosões de brasilidade tão oportunas quanto necessárias, com elas constrói painéis de grande beleza pintados com a água-forte da competência, mostra, sem meias palavras, a realidade Brasílica. Mas, acima de tudo, faz de suas páginas um libelo contra os desmandos e injustiças das elites encasteladas no poder, deixando a míngua o povo brasileiro.
      O humanismo pulula nestas linhas em que sobressaem as crianças com as invencionices e atrevimentos com sinceridade juvenis. Faz da defesa do meio ambiente uma de suas molas mestras, com virtuosismo e competência. Basta conferir.


domingo, 23 de janeiro de 2011

RAZÃO DOS TEMPOS

Condorcet Aranha

Estou num mundo inseguro,
Cruel, sem fé, muito duro.
Na janela tenho grade,
Pelo medo que me invade.
Na porta mantenho a tranca,
Do pavor que me atravanca.
Coração angustiado,
Tem um dono e é dominado.
A alegria que me invade,
É do tenro da idade.
Se, no peito cresce o amor,
Com ele vem muita dor.
Porque viver agarrado,
Se todo elo é quebrado?
Sorrisos por todos cantos,
Mas que ao fim são fortes prantos.
Porque os ,“bom-dias”, meus,
Terminam, num só “adeus” ?
E a paixão da jovem idade,
Porque acaba em saudade?
Quando o amor é esperança,
Criança vira lembrança.
Se, falo, acabo escutando,
Se, escuto, acabo falando.
Esse Deus que tanto chamo!
É pela vida que amo?
Mas se ela é passageira,
Para que, sentir-lhe, inteira?
Se, a luz que me ilumina
E que aos meus olhos fascina,
É do sol que esquenta o peito!
Certamente é por defeito,
Que a idade me põe no leito.
Então com medo na alma,
A verdade é quem me acalma.
Sentindo o frio dos ventos,
Pela razão dos tempos.
Se à vida cheguei com medo,
E parto achando que é cedo!
Não vi sequer, resultado,
Nesse ciclo terminado.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

AQUARELA DO AMOR

Condorcet Aranha 

Olhando o verde do mar,
O puro azul desse céu,
O sol dourado a brilhar,
Estou sonhando e aréu.

A abelha pousa na flor,
A brisa me tange a face,
Gostoso e suave odor,
Estou como Lovelace.

Branco véu da cachoeira,
O rio que corre solto,
Mergulha a águia-pesqueira,
Estou, na verdade, envolto.

Envolto em tanta beleza,
Razão própria dessa vida!
Por isso é que a natureza,
Deu-nos medo da partida!

Pela trilha corre a anta,
O passarinho que canta,
O sol que cedo levanta
E um colorido que encanta!

Araras que cruzam o céu,
Fazendo um grande escarcéu!
Nuvens do branco ao griséu
Realizando um bailéu!

Escravo da liberdade,
Por toda a minha existência!
Com a companheira saudade
Vivo da benevolência!

Mas se quando ela chegou,
Na vida, perto de mim,
Todo o peito me tomou,
Qual fragrância de jasmim.

Com sua doce brancura,
O liso cabelo louro,
Trouxe-me a tal ternura
E o mais rico tesouro!

Tesouro que não tem jóias,
Mas tem maior esplendor!
Que nos leva às paranóias
E que chamamos de “amor”!

Ela, como a natureza,
Quase tudo que eu queria,
Além de toda a beleza,
Com mais me receberia.

Pois só Deus benevolente
E estrelas com muito brilho,
Depois de criar-nos gente,
Por presente dá-nos filho.

Por isso é que a gente tem,
Ao fim de nossa jornada,
Que apenas dizer amém
E não reclamar de nada.

Quando o corpo se despede,
Da alma iluminada,
É seiva que a outro cede,
Para uma nova alvorada.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

PONTOS DE PARTIDA

Condorcet Aranha

Serei ao fim da jornada,
Só, dois pontos de partida,
E embora trilhe uma estrada,
Por muitos pontos, traçada,
Gravarei cada passada,
Por pontos que valem nada.

Nesse meu ponto de vista,
A existência é confusa,
Pois só quem for bom artista,
Suportará quem acusa,
Manter-se-á ateísta,
Dirá amém à recusa.

Descartando todos pontos,
Que não foram de partida,
Somarás seus desencantos,
No percurso dessa vida,
Ao se perder entre os pontos,
Contidos nos de partida.

Portanto apenas dois pontos,
De partida, são limites,
Que nos promovem confrontos.
Num deles partes pra vida,
Esperançoso e permites,
Que o outro seja a partida.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

ALFABETIZANDO-ME


Minh’alma é o alfabeto que me permite o versejo,
Pequenas lascas são letras, com as quais formo palavras,
Os mais perfeitos pedaços das orações do desejo,
Expressando sentimentos, verdades puras, cifradas.
Pelo tempo, espaço e vida, vou me alfabetizando,
Melhoro, seguidamente, as lascas do meu versejo.
É por meio da expressão que estou me qualificando,
Co’as orações que, nem mais procuro, já vejo.


Enquanto, o tal tempo passa, maturando minha alma,
Vou compondo poesias, prosas, trovas e sonetos,
Pois, com eles, a verdade, me alegra e acalma.
A verdade que exibo, nessa vida, nos coretos,
É certeza de que exponho o amor na minha palma,
Com a esperança do sucesso, o maior dos amuletos,
Garantindo meu futuro, pra fugir de qualquer trauma,
E alcançar os meus desejos, sem estar nos esqueletos.


Agora alfabetizado, percebi que não sei ler,
Pois, as letras que conheço, formam orações sem sentido,
Com verdades, mentirosas, que insistem em carcomer,
Esperanças destruídas pelo tempo já vivido.
O amuleto, apodrecido, antes de amadurecer,
Jogou-me nos esqueletos, sem, sequer, ter percebido,
Que a verdade inconseqüente, na mentira do viver,
Será pó ou talvez cinza, do alfabeto esquecido.
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3º Lugar - Academia Cachoeirense de Letras – V Concurso Newton Braga de Poemas
7º Lugar - Prefeitura Municipal de Chapecó – Fundação Cultural Chapecó – II Concurso Nacional de Literatura de Chapecó – Categoria Conto e Poesia
Coletânea: Revista da Academia Cachoeirense de Letras – Ano XIX – Nº 19
Menção Honrosa - Academia de Letras e Artes de Araguari




terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A VERDADE DE VOCÊ

Condorcet Aranha



Busquei em livros, perdido,
Palavras de muitos sábios.
Mas nunca tive a verdade,
Que me soltaste entre os lábios.


Meu coração tão sofrido,
Magoado, todo partido,
Jamais pensou escutar,
Alguém dizer-lhe querido.


Em minha vida, ao chegares,
Já do amor esquecido,
Tu me acordaste no peito,
Um gigante adormecido.


Adormecido porque.
Dando tudo em troco nada.
Levou em meio a cabeça,
Uma tremenda pancada.


Uma pancada da vida,
Das pessoas, do amor.
No calicromo do mundo,
A mentira não tem cor.

Pois se cor ela tivesse
E então a gente a visse,
Talvez no mundo de agora,
A gente nem existisse.


Hoje sou, existo e quero,
Pois alguém me olha e vê,
Sinto a paz e o amor, até,
Resultados de você.

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Esta poesia é muito antiga, provavelmente não teve nenhum tipo de revisão e para os críticos literários, nesta época o poeta exercia sua outra profissão de Pesquisador (Botânico).

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A OITAVA MARAVILHA.


Condorcet Aranha                         

Com tanta beleza no mundo
Como eu iria acreditar,
Que dentro do próprio peito,
Poderia ainda encontrar,
A flor que ao desabrochar,
Seria o amor mais perfeito.

Seria o mais alto templo
Faraônico do Egito,
Também o maior exemplo
Da paz que há no espírito,
Como hoje eu o contemplo,
Por ser verdade e erudito.

É a mais singela beleza,
Santificada em Madonna,
Cujo olhar traz a nobreza,
Da dama sem ser cafona
Ao esconder a tristeza,
Pois do sentimento é dona.

Colosso maior que Rhodes,
O brilho de sua alma
Ilumina a Alexandria.
E o Deus do Olimpo, com calma,
Mostrará toda a alegria,
Que nos pode por à palma..

Predisposta a entregar
Seu amor a quem precise,
Deixa o peito extravasar,
Ouvindo de quem exige,
O alimento ao chorar,
Antes de sua crise.

Por isso vivo a certeza,
Que entre tantas maravilhas,
A oitava é a mulher.
É mãe, é paz, natureza,
A mata, o luar das Antilhas,
É tudo que o mundo quer.

Pois se mulher foi Maria,
Que nos deu o seu Jesus,
Cuja bondade e empatia,
Pelo sempre nos conduz
Agradecer dia-a-dia, 
É nosso dever ante a cruz

domingo, 16 de janeiro de 2011

TRAMA

Condorcet Aranha


A vida nos castiga, lentamente,
Cortando, a cada dia, o nosso espaço,
Enquanto absorve, friamente,
O nosso corpo frívolo de aço,
Blindagem que sequer protege a gente
Do tempo que, de nós, faz um bagaço.


Depois de nos criar tanta ilusão.
Após a inocência da infância,
Nos faz bater no peito um coração,
Capaz de amar bastante, em abundância,
E vir, logo depois, como um tufão,
Soprar nossa alegria à distância.


Incrível a sutileza dessa trama,
Na qual nos envolvemos, em seguida,
Sem ver como é cruel o nosso drama,
Sequer sentir que alma é consumida,
Enquanto, a morte aguarda, com a proclama,
Pro casamento eterno, o da partida.


Mas, antes, a tal vida insatisfeita,
Nos dá a solidão por companheira.
Também, a mil saudades, nos sujeita.
Depois?  Nos abandona sorrateira!
Já mórbido então a gente deita,
Na urna funeral e derradeira.
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Associazione Culturale Savonese “ZACEM” – Concorso Leterrario Internazionale “Premio Città di Savona – Enrico Bonino” (menzione speciale migliori concorrenti estero)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

PENSAMENTOS DE CONDORCET

"A maldade é como um H no início da palavra. Existe, mas não se justifica".

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

NÃO ACEITO OS OUTROS

Condorcet Aranha


     Inacreditável como a humanidade, em pleno século XXI, ainda reveste-se de tantos preconceitos. Quando falo “preconceitos” não estou me referindo àqueles já tradicionais como a discriminação racial, religiosa, social e administrativa. Mas, principalmente, os que estão intimamente ligados aos defeitos físicos, mentais, higiênicos e, até mesmo, resistência à aceitação das pessoas de idade muito avançada. Nota-se claramente que, muitas pessoas, evitam ou sequer conseguem o contato físico, diante dessas situações.
    Possivelmente, se houver maior preocupação na educação infanto-juvenil, promovendo a aproximação das classes mais privilegiadas, através de visitas aos orfanatos, hospitais, asilos de crianças, de idosos e introduzirmos princípios de aceitação das diferenças, sejam quais forem, ao longo do tempo, minimizaremos essas resistências injustificáveis e inadimissíveis.
     Observa-se em algumas famílias que, crianças e pré-adolescentes, apresentam um certo comportamento discriminatório até com seus próprios antecessores como os avós e bisavós e, mais evidente, quando esses apresentam algum tipo de limitação física ou mental, devida a doenças típicas da chamada terceira idade.
     O mundo, evidentemente, encontrará maior integração entre os povos e grupos étnicos, aproximando-se da paz, à medida em que “os outros” deixarem de existir porque, num futuro próximo, acredito firmemente em ter ao meu lado, fazendo coro a este meu pensamento, a maior parte da humanidade. Confirmo que não aceito “os outros”.
     Nas concepções atuais de religiosidade e ciência, até onde o ser humano consegue visualizar durante a sua efêmera existência, acredita-se na origem retroativa a uma unidade reprodutiva e, como um simples representante dessa comunidade humana e contemporânea , é que não aceito chamar os meus semelhantes de “os outros” porque, todos eles, sem exceção, são, verdadeiramente, “pedaços de nós”.  
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1º Lugar - ALPAS XXI – “A palavra do século XXI”

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

LASCAS DE SAUDADE, PERDIDAS NO TEMPO.

Condorcet Aranha


Espelhos quebram a medida em que os tempos... Passam
Repetem as cenas que serviram como exemplos,
Tal como o pó que, espalhado pelos ventos,
Foi encobrindo tanta história, em muitos templos.
Mas é o vento e o próprio tempo que descerram
Todas relíquias, transformando a história em lascas,
Submersas nas imagens do passado, as quais encerram,
Por muito tempo, nossas lendas eternizadas.


Assim, espelho-me nos exemplos singulares,
Onde as verdades fazem morada, inevitável,
Para expeli-las como pó em muitos pares,
Das futuras gerações em que o vento inabalável,
Persistente e indomável, leva esperanças nos futuros,
Com amor, com união e aonde talvez exista a paz,
Pois hoje, os exemplos estão em templos muito duros,
Invulneráveis, que só o tempo invencível os desfaz.


Agora entendo que os exemplos vêem dos espelhos
E que as mentiras são as verdades passageiras,
Não se eternizam, nem se prestam como conselhos,
Porque dos templos são as lascas mensageiras
Que farão parte de um conjunto de saudades
E que, em meio ao pó, enterrará a minha história,
Passageira, entre as mentiras ou verdades,
Eternizada pelo tempo, o mesmo que levou minha memória. 


Obs.: Após a leitura da poesia, o declamador prosseguirá declamando, apenas, as palavras em negritos, para finalizar o texto.
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1º Lugar na Academia Ponta Grossense de Letras e Artes – APLA  - Ponta Grossa em 2005

MençãoHonrosa - Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro e a Casa de Cultura Lima Barreto - 2005
III Olimpíada Cultural – 500 anos da Língua Portuguesa no Brasil - 2006

IX Concurso Nacional de Poesias do Clube dos Escritores - Piracicaba -  (Recebeu o troféu Coruja),  2007
Coletânea: Garimpo de palavras – Editora Guemanisse, 2007
3º Lugar - Associação Artística e Literária – A Palavra do Século XXI – Cruz Alta - Coletânea: Deslizes
Menção Honrosa - Academia de Letras e Artes de Araguari 
Minirrevista Literária – Contando e Poetizando – Ano I – Nº IV, 2009
Coletânea: Vitórias – Poesias, Contos e Crônicas – Associação Artística e Literária – A palavra do século XXI – Porto Alegre, 2009







domingo, 9 de janeiro de 2011

ADEUS DEUS

Condorcet Aranha


A natureza chorava
A dor do meu coração,
Enquanto o peito guardava,
A grande desilusão.


Se a forte chuva lavava,
D’uma janela a vidraça,
Meu sentimento chegava,
Às margens d’uma desgraça.


Depois que ela me deixou,
A dor foi tanta e tamanha,
Que já nem sei onde estou,
Nem quem perde ou quem ganha.


A paixão que me domina,
Com tanta força latente,
É a mesma que a ela abomina,
Por partir tão de repente.


Se não teve por escolha,
Prender-se aqui nesta vida,
Tal qual não tem, uma folha,
No outono em sua partida!


Até entendo e perdôo,
Se foi Deus quem a levou,
Pro seu mais dourado vôo,
Que tanta dor me deixou.


Mas jamais perdoarei,
Essa atitude sagrada!
Porque aqui eu fiquei,
Sem você, fiquei sem nada.


Porém se foi Deus quem quis,
Deixar-me sofrendo assim!
Também está infeliz,
Por não ter pena de mim.